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agosto 27, 2004
Só pra não deixar passar
Só pra não deixar passar em branco, hoje tive o sonho mais longo do ano. Raramente tenho sonhos longos. São todos pequenos e rápidos, que não dão tempo pra eu sequer imaginar que é sonho. Esse foi diferente, foi muito longo. Em vários momentos eu desconfiei daquilo tudo, e como um bebê fiz o que sempre faço nos sonhos pra acordar: estalar os dedos ou bater palma. Esse eu estalei e bati palma que nem um panaca. E nada. Não dá pra entender porque a gente acredita naquela palhaçada toda por mais impossível e surreal que ela seja. Nesse meu sonho choveu muito, muito, até que alagou tudo. Alagou uma piscina olímpica e a água que vazava tomava a forma da piscina em pleno ar. Uma enorme quantidade de água em formato quadrado se auto-sustentando no ar. E os mais aventureios entravam, mergulhavam e saiam do outro lado, andando. A chuva era muito pesada, eu estava com uns velhos vendo aquilo tudo debaixo de um teto e todo molhado e com frio por causa da ventania. Coqueiros dançando sempre é bonito de se ver. Eu tava molhado e com frio, e eu tava debaixo do meu edredon quentinho e com a cabeça apoiada no meu travesseiro fofo, e molhado e com frio. O nosso cérebro não é nada mais que uma super maconha. O aspecto pesadelo se deu quando a chuva parou, a grama secou, ficou verde e meu irmão não conseguia me reconhecer. Ficou maluco, querendo bricar de luta mas não sabendo muito bem diferenciar a brincadeira da luta. Eu só conseguia segurar ele e perguntar se ele não sabia quem eu era. É muito aterrorizante quando uma pessoa muita próxima olha pra você como uma expressão que você jamais viu no rosto dela. Ela te mostra aquilo que você nunca viu nela. É como uma garota que apenas lhe tratou de forma carinhosa e absurdamente amável, por mêses a fio, daquela maneira tão amável e mágica que te deixa atordoado, até que algo quebra isso e ela se mostra uma outra pessoa. Não gostanto tanto de você assim. Você olha pra ela e vê então uma desconhecida, mas não dá pra acreditar, não dá pra associar aquela imagem que só é relacionada a coisas ótimas com aqueles sentimentos nos olhos que te vêem. Essa sensação de estranhamento. Nada pessoal, por favor. Mas eu tenho certeza do responsável pelo longo sonho. Eu quase sabia que ia acontecer, e não deu outra. A última coisa que li antes de dormir foi o conto "Homem Armário" do Ian McEwan. Um dos contos do livro Primeiro Amor, Último Sacramento & Entre Lençóis. O McEwan se mostrou muito capaz de me impressionar apenas contando uma história. Muito pavoroso esse conto, mas ao mesmo tempo completo de emoções comuns ao ser humano. Estranhamento é o que acontece ao fazermos essas associações. Acabei de ler e tive que respirar um pouco antes de dormir. Nunca fui de acreditar que aquilo que você faz antes de dormir pode influenciar no sonho, mas isso com livros que tem alguma forma de horror eu estou começando a acreditar. Tudo começou com o Will Self. E agora não sei porque estou escutando essas músicas aterrorizantes do Death in June,a "Bloody Victory". Vou colocar um Super Furry Animals pra balancear. Mas viva a literatura. Hoje tive um ótimo dia. Espero que você tenham um bom dia também, amanhã. Se não tiverem, que ao menos lá no fundo fiquem felizes por estarem tristes. Se é que isso faz sentido pra vocês. Abraço em todo mundo que eu conheço.
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Posted by parada at agosto 27, 2004 12:21 AM
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