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setembro 13, 2004
Gostei do livro novo do
Gostei do livro novo do Drauzio Varella. Por um Fio conta histórias de pessoas à beira da morte. As que ficaram na mente nos mais de trinta anos de profissão do autor, que só decidiu lançar o livro agora com mais de sessenta anos, por se achar um pouco mais maduro pra falar sobre o tema. Apesar de mais maduro, não faz afirmações nem oferece conclusões. Apenas boas histórias, que devido ao tema, não tinham como não ser interessantes.
De início há um certo incômodo ao tomar contato direto com o tema. Incômodo bom. Depois comecei a achar o estilo muito direto, quase seco, sem chance alguma para floreios. Mas com o passar das páginas, o que parecia ser um problema se tornou a maior virtude do livro. Comecei a sentir a necessidade de fechar as páginas por alguns segundos depois de cada história. Na tentativa de captar melhor toda uma carga histórica envolvida em tão poucas palavras. Elas em si não carregam esse peso, apenas abrem espaço para o leitor parar e refletir. Não sei se foi uma escolha consciente do autor, mas pra mim funcionou.
Se muitas histórias deixam um nó garganta, outras até podem fazer rir. Quando mesmo no finalzinho da vida a pessoa faz piada da sua situação, algo que deixa todos os familiares e médicos completamente embaraçados. São também bastante bonita as descrições feitas pelo Dráuzio. Por exemplo a de uma mulher linda que ele certa vez se apaixonou e cujo teve um reencontro inesperado após vários anos, com ela já careca e abatida devido a doença, mas ainda com seus belos traços. São boas as descrições. Outras tem um final feliz, com o paciente surpreendendo a todos e voltando a ficar bem. Algumas até são bem simples, poderiam ter ficado de fora. Mas já me vejo relendo algumas de novo daqui algum tempo. O livro trata do tema de forma bastante acessível. Desde jovens até grandes médicos deveriam ler.
A última história diferencia um pouco das demais por não ser tão concisa e, agora sim, bastante emotiva. Com extrema elegância, Drauzio narra a história de seu irmão Fernando, também oncologista, que passou da posição de médico para a de paciente ao se ver com a doença. "Todo médico devia passar por isso uma vez na vida". A grande tristeza dessa perda potencializa uma enorme bondade no autor que transparece na maneira como relembra e escreve o fato, que tem o potencial de deixar o leitor prostrado ao terminar o livro. Com um sentimento bastante genuíno, algo que raramente temos, o qual a literatura é especialista em nos passar.
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Posted by parada at setembro 13, 2004 01:16 PM
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