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outubro 25, 2004
Antes de entrar no recinto
Antes de entrar no recinto da Bienal vi escrito numa lata de lixo "Isso é arte?". Ainda lá fora se podia ouvir pessoas conversando coisas como "porque o artista..." Quando entrei e fui guardar a mochila, vi um veleiro de cabeça pra baixo pendurado no teto. À direita, um elefante com um balaio em cima com um tigre pendurado. Lá longe, pendurado por longas cordas, um fusca. Vamos conhecer a Bienal então.
Primeiro fomos ver as fotos. Foi o que achei de melhor na Bienal. Muito bonita as do polonês Piotr Uklanski, retratando arquitetura de seu país com uma composição que realmente dava prazer. Trabalho fino e sem firula de pretensão artística. Legal também as várias fotos de salas de casa, onde se reconhecia quem morava ali. Bonito também as fotos com luz por trás, mas a melhor mesmo foram de longe as do polonês. Não gosto muito de manipulação de elementos na foto, como poses, expressões e posição de objetos. Mas bem bonito ver as fotos em tamanhos enormes. Tinham também coisas bem fraquinhas, como várias foto de rua dentro do carro, algumas sem motivo algum totalmente desfocadas.
O mais marcante dos vídeos foi um que mostrava em três telas pessoas dançando numa aparente festa de carnaval de rua no nordeste do país. Na tela maior ficava sempre um velho negro e magro, aparentemente bastante bêbado, dançando sem parar num balé mendigo carnavalesco. No começo fiquei meio com pena do sujeito, depois achei bonito. Às vezes ele parava e ficava imóvel olhando para o nada, parecia estar descobrindo todos os grandes mistérios da vida. Só pra voltar a dançar tudo denovo. O som não era do ambiente, mas um tango finíssimo num volume baixo e agradável. Era algo estranho mas extremamente viciante de ficar vendo. Bastante importante para a fruição o colchão de palha no canto da sala. Foi a obra que mais ficamos vendo.
Ainda nos vídeos, a obra de arte era um vídeo de uma operação de circuncisão. Duas telas. Uma mostrando a cabeça do rapaz e a outra o então todo talhado e judiado sendo operado. Mesmo nunca tendo ido em nenhuma Bienal, imaginei que teria algo do tipo. Como as pinturas de gente mostrando a bunda e dos falos adentrando em orelhas. Pelos menos não tinha nenhum vídeo de algum animal de grande porte sendo morto.
Alguns quadros eram bonitos, principalmente os grandes e coloridos. O pequenos retratos de um chinês eram interessante. De um lado do pequeno quadro a pessoa que ele desenha, do outro ele desenhado rusticamente pela pessoa. Muitos retratos. Também achei legal umas colagens, algumas coisas bem simples e cinzas, como pequenos quadrados de panos em diferentes tons de cinza. Simples, limpo e legal.
Não era obra de arte mas me chamou bastante a atenção as pessoas que trabalhavam na Bienal. Gente que tomava conta das salas ou bombeiros que se posicionavam em lugares engraçados em meio as obras de arte. Mais de uma vez pensei que eles faziam parte da obra, como um segurança todo de preto no canto de uma sala toda branca. Era divertido também espiar alguma explicação das instrutoras da Faap. Mas só um pouquinho. Na saída tinha um artista de rua legal, um estátua. Gosto disso e fiquei lá perto olhando pra ele. Até que tirei umas moedas do bolso e coloquei na caxinha. Quando levantei o lombo tomei um susto, ele se mexendo e dizendo "oooooi". Bem divertido. Depois disso várias pessoas do lado começaram a dar moedas pra ver ele mexer. Curti esse cara. Tinha uma corrente amarrada aos pés cheias de caixas de remédios.
Fazendo um balanço, tem coisas boas na Bienal. Algumas obras bem finas, de muita beleza e tal. Outras são pra diversão do público, meio arte/parque de diversão, o que é ótimo. Mas tem muita, muita coisa que você olha e pensa "a maconha era da boa" e "tem que ser bastante rico e bobo pra ter a idéia e se mover pra montar uma coisa dessa." Mas sou roceiro e meus amigos são todos pedreiros e coveiros.
Mas ir conhecer a Bienal na verdade era apenas uma desculpa pra poder andar de ônibus, caminhar pela Av. Paulista à noite, comer pizza, torta do MacDonalds, ver metade do Independence Day sem áudio no sofá da Fnac e andar de metrô ao lado da Elis.
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Posted by parada at outubro 25, 2004 10:00 AM
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