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Nosferatu

Uma noite de sexta-feira chuvosa e tomei a única atitude coerente naquele momento: corri à locadora. Cruzar a Ipiranga torna-se tedioso com o passar dos anos. Apertei o botão da sinaleira de pedestres, aguardei que os motoristas se frustrassem na incessante tentativa de jogar água em mim com os pneus, olhei para os fios elétricos que cruzavam a avenida pelo ar e vi um rato. Vi um rato caminhando pelo fio. E para chamar minha atenção na noite, àquela distância, tratava-se de uma ratazana relativamente grande.

Era um rato gorducho, mas veloz - como devia ser o Puskas jogando pela Espanha em 62. Cruzei a rua de olho no rato Puskas, que seguia em frente. Parei na calçada olhando para cima, enquanto taxistas me observavam, claramente ressabiados. Cogitei explicar a situação, mas desisti. O rato prosseguia, passou do fio para os galhos de uma árvore. Achei que o havia perdido de vista, mas ele apenas usou a árvore para chegar a outro fio, que provavelmente o levaria ao destino desejado. Fugiu de minha vista ao chegar na árvore seguinte.

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o húngaro Puskas treinando pela Espanha em 1962

Segui meu caminho, lembrando que dias antes, deparei-me com um rato na escadaria do prédio. Parei assustado, e o rato começou a escalar uma parede. Atônito, percebi que suas pequenas patas tinham uma textura parecida com as dessas lagartixas que ficam andando pelos tetos - embora o roedor procedesse a escalada valendo-se sobretudo de suas unhas. Transtornado, bateu no teto, caiu no chão, e voltou à escalada. Dominado pelo horror, saí correndo. Na volta, nenhum sinal do acontecido. Deste então, permaneço alerta aos sinais de evolução mutante dos ratos urbanos, e a visão do "rato-equilibrista" só aumenta minha preocupação.

Mas enfim, cheguei à locadora e percebi que os proprietários decidiram liquidar praticamente todas as fitas VHS. "Alugue e não devolva", era a idéia. Projetando o inevitável fracasso da tecnologia do DVD, comprei diversos títulos, R$ 3,50 cada. O retorno do formato VHS como dominante já está bastante claro. Na mesma linha, não acredito no sucesso da telefonia celular.