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Dedo Negro com Unha

Esperei com ansiedade o lançamento do livro Dedo Negro com Unha, de Daniel Pellizzari. O livro das cousas que acontecem, seu segundo livro de contos lançado em 2002 pela Livros do Mal, foi levemente decepcionante para mim. Quase não me causou impacto. Talvez por eu acompanhar os escritos de Pellizzari pela internet desde 1995. Estava acostumado demais com seu universo. Isso me chateou na época. Se tratava de um dos autores que mais me divertia e instigava ler. Esperei seu novo livro com a expectativa de ver esse meu antigo interesse renovado.

Dedo Negro com Unha vem para provar todo gigantismo e potencial literário de Daniel Pellizzari. Foi impactante o salto qualitativo em sua escrita agora com as liberdades de uma narrativa mais longa. O livro tem 170 páginas. Enquanto lia, minha vontade era de que tivesse mais de mil. Puxando para os limites do infinito a construção do seu mundo com suas habilidades estilísticas, metafísicas, humorísticas e enciclopédicas. Uma concisão de conto e um ótimo senso de equilíbrio deixam a rica leitura muito agradável e divertida, mesmo que carregada de profundidade e diversas paisagens psicológicas. Captar todos essas nuances vai depender da excentricidade literária de cada leitor, pois é um livro com pretensões grandiosas. E o início de um longo projeto. O campo já foi aberto e muito bem adubado. O livro em si quase se contém, se não fosse pela enorme dimensão e forte alicerce que sobram junto como a experiência final.

Talvez as resenhas se foquem apenas nos personagens e universos bizarros criados, o que não é novidade alguma. Dedo Negro com Unha traz o já famoso realismo fantástico de Pellizzari, só que agora com muito mais foco. Não caí em momento algum na imaginação pela imaginação. A riqueza simbólica que permeia todo livro estabelece relações com nossas vidas. O nonsense não é ausente de valores, cada detalhe traz um conteúdo que nos toca e provoca nosso senso de realidade. A riqueza da imaginação é tão forte quanto a riqueza do conteúdo.

Joca Reiners Terron diz no posfácio do livro que Daniel Pellizzari é o melhor escritor sérvio, argentino, russo e francês da literatura brasileira. Agora temos que concordar. Dedo Negro com Unha tem todas as características de uma obra-prima ainda em expansão e mostra que dentro da cabeça de Pellizzari ainda há muitas dimensões a serem exploradas. Isso tudo é só o começo.