Complexa essa discussão sobre o referendo da proibição do comércio de armas de fogo. Li bastante artigos e opiniões sobre e não conseguia me decidir. Agora, fazendo um balanço geral, decidi que vou votar pelo “sim”, o comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil.
O Brasíl é o campeão mundial em mortes por arma de fogo. Se bem me lembro de alguma coluna que li, do total dessas mortes, apenas 5% provem de casos de roubo seguido de morte. A grande maioria das mortes acontecem em casos banais como crimes passionais, brigas de bar, em boates, acidentes envolvendo crianças, etc. Devia ter anotado a estatística e a fonte, mas lembro também que a esmagadora maioria das pessoas que cometem esse tipo de crime não tem nenhum antecedente criminal. O “sim” pelo referendo parece ser capaz de diminuir essas pequenas tragédias que marcam milhares de famílias. Outro motivo que me fez escolher pelo “sim” foram as personalidades que defendem o “não”, gente como o Fleury e o Afanásio.
Não sei qual é a intenção original do referendo, mas creio que ele não vá mudar em nada o arsenal dos bandidos, mesmo com O Globo publicando que 51% das armas apreendidas do tráfico são de origem legal. Não acho também que um novo mercado negro irá surgir com a proibição. Ele já existe. Traficantes compram armas da política, do exército, de Israel, de onde eles querem. O contrabando vai continuar existindo como existe hoje e quem quiser comprar arma, ainda vai comprar com facilidade. Mesmo assim, a aprovação do referendo é uma forma de impedimento para comprar algo feito para matar e gerar violência.
Acho patética a opinião de que o voto pelo “sim” vai desequilibrar o balando de forças entre o cidadão comum e o bandido, deixando o bandido em vantagem, sem medo para fazer o que quer. Votar “sim”, então, seria legitimizar que o cidadão deve se armar para se proteger, já que o Estado não tem capacidade para isso. Como se os muros altos, grades e cercas elétricas não bastassem. É preciso se armar para se defender do dia que o ladrão bater em sua porta. Sinceramente, é sustentar encanação e medo demais para se viver. Votando “não”, uma cobrança maior deve recair em cima da polícia - mas sabemos que nada irá mudar.
Não acredito que o referendo tenha relação com o problema da crescente onda de violência. Nem que seja uma medida para coibir a criminalidade. Não acho que bandido tem medo de arma. Se ele quer roubar uma casa, praticar um assalto, vai fazer de qualquer jeito. E se a vítima sacar uma arma ou apenas portar uma, as chances de tiros serem dados por algum dos lados aumenta muito. Basta saber então quem irá tombar primeiro. Com exceção de gente que mora em fazenda, acho que não seria de mal algum dificultar, mesmo que seja as pessoas de bem, a terem o acesso a armas.
Mas reitero que esse é um referendo complexo, que deveria ser tratado com mais responsabilidade e importância pelo governo, para esclarecer melhor a população sobre o que se trata. Pega mal também a campanha pelo “sim” ser feita por artistas globais enquanto a do “não” é apenas feita por atores das campanhas do governo. Com o “sim” ganhando, veremos as conseqüências no futuro. Se influenciar 1% na diminuição de mortes, influenciará na diminuição da violência. É bom lembrar que a campanha do desarmamento já teve ótimos resultados. Se nada mudar, acho que também não será capaz de piorar.