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Transgressores

Jerônimo Teixeira, crítico literário da “Veja”, escreveu seu último artigo entitulado "A Horda dos Transgressores" malhando os escritores André Sant’Anna, Marcelo Mirisola, Daniel Pellizzari, e de quebra outros 17 que compõem a coletânea Geração 90: Os Transgressores, organizada por Nelson de Oliveira.

Apesar da amizade pessoal com alguns dos citados no artigo, tenho que reconhecer que muitas das críticas de Jerônimo procedem. Porém, poderia ter sido muito melhor, mais precisa e menos generalista, caso não ele tivesse se embasado naquilo que por si só é uma besteira sem sentido: o próprio nome do livro, “Os Transgressores” - praticamente uma piada pronta.

O único dos escritores citados que li foi Daniel Pellizzari. Jerônimo acerta em apontar uma inconsistência narrativa e excessos de brincadeiras metalingüísticas do último livro do Pellizzari, Dedo Negro com Unha. Mas discordo quando diz que a obra se perde nisso e esquece de dizer a que veio. Talvez Jerônimo esperasse um fechamento mais arrebatador, com uma consistência melhor por ser um romance, mas pra mim um dos pontos fortes do livro são os pequenos tesouros de insights em frases aparentemente de menor efeito, existentes por todo livro.

O posfácio do Dedo Negro, por Joca Reiners Terron, o melhor escritor dessa nova geração, também chega a ser um pouco constrangedor. Apesar de ter gostado muito e ter me ajudado a entender melhor a dimensão do livro, se esbarra em uma necessidade de defendê-lo perante a crítica literária de hoje. E, no caso de livros, não há nada a ser defendido.

No box sobre “como escrever um livro transgressor”, dois itens me incomodavam bastante há uns anos atrás em alguns dos aspirantes a escritores – agora não vejo tanto mais isso. Um é o “seja nojento”, como se a escatologia por si só fosse um elemento de ruptura impactante, e “crie personagens malditos”, algo que de tão pequeno chega a dar sono. Os dois ítens, porém, podem ser usados com muita maestria e fazer necessário, o que não era o caso da maioria que eu via. Porém, isso não tem nada a ver com Dedo Negro com Unha. Não sei os outros.

É preciso reconhecer que Jerônimo Teixeira fez uma boa crítica, só se aproveitou demais da facilidade que é tirar sarro de alguma coisa que se auto-proclama transgressora – o que não é o caso de nenhum dos escritores da coletânea. Ninguém ali está transgredindo algo, no máximo dando continuidade a uma tradição experimentalista que não é nem um pouco novidade. No mais, legal ver que a revista de maior circulação no país prestando atenção e dando espaço para falar sobre esses novos escritores.