Smith: Eu penso na leitura como uma habilidade e uma arte. E se você lê mal – Eu sempre penso num bom exemplo – Tenho tentado escrever um artigo sobre [David] Foster Wallace e quando você lê Foster Wallace pela primeira vez, ou quando os críticos o lêem, eles o devolvem com aquilo que eles acreditam que viram, que é algum espertinho muito sabido com uma linguagem inteligente, mas eles não tem idéia de que isso –-Silverblatt: Sim, que ele está tentando determinar o que é verdadeiro. O que pode ser dito de forma verdadeira.
Smith: Exatamente. Um incrível escritor altamente ético e moral. Mas há alguns tipos de camadas superficiais nele que, se você não pode perder seu tempo pra pensar mais a fundo, parece apenas, “Aqui está um cara inteligente com suas histórias espertalhonas”. E isso não é verdade. Mas o problema com os leitores, a idéia que nos é dada sobre leitura é que o modelo do leitor é uma pessoa vendo um filme, ou assistindo televisão. Então a idéia principal é, "Eu devo sentar aqui e ser entretido." E o modelo mais clássico é a idéia do leitor como um músico amador. Um músico amador que senta no piano, tem a sua peça musical, que é a criação, feita por alguém que ele não conhece e provavelmente não pode compreender por inteiro, ele tem que usar suas habilidades para tocar essa música. Melhor a habilidade, melhor é a doação que você oferece ao artista e que o artista oferece a você. Essa é uma idéia sobre leitura incrivelmente fora de moda. Ainda assim, quando você pratica a leitura, e trabalha num texto, ele só pode lhe oferecer aquilo que você dedica a ele. É uma lição antiga, mas inteiramente verdadeira.
Trecho que resolvi traduzir da entrevista da Zadie Smith ao programa de rádio Bookworm. Ele em inglês aqui. Aliás, o texto no site do programa me deixou interessado em seu novo livro, On Beauty, onde ela mostra como a nossa cultura cria uma ilusão sobre a identidade, e como a busca pelo belo e verdadeiro depende da destruição da mentira que é a identidade. Nada é mais importante que essa noção.
