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Uma nota na Zero Hora de hoje: "O trabalhador rural Antônio Augusto Veloso Pereira, 20 anos, foi preso ontem em Dom Pedrito por latrocínio (roubo com morte). Pereira confessou ter matado a pauladas o casal Ney Marques Velloso, 77 anos, e Iracy Borges Velloso, 76 anos, para roubar cerca de R$ 50, um rádio, uma faca de prata e um relógio. Eles foram mortos em uma propriedade rural, no último dia 28." É isso aí: dois mortos brutalmente por cinqüenta reais e mais uns objetos que devem ter rendido mais uns vinte. Tão chocante quanto o crime é o espaço destinado a ele. Cinco linhas. E teve a loteria onde eu jogo sempre, que foi assaltada na segunda-feira. Ontem, a loja não abriu. O dono espalhou cartazes na fachada protestando contra a violência. Na farmácia em frente, onde me contaram a história, a reação era quase de deboche, não de compreensão. "Se ele foi assaltado ontem, por que fechou a loja hoje?" - questionou a balconista. No Rio Grande do Sul, a violência é grande, mas nunca se diz que está incontrolável. A população é omissa e apática. A mídia é cínica. Aconteça o que acontecer, não se mobilizam para porra nenhuma. Mataram dois caras em portas de boates no Moinhos de Vento em dois finais de semana seguidos e ninguém cobrou providências da polícia. Na imprensa, nos colunistas, há todo um cuidado em contornar uma conclusão: não havia, como eles mesmo diziam, partidarização da segurança pública e nem bons policiais sendo melindrados pelos petistas. O que havia era uma polícia incompetente e corrupta, que seja qual for a situação não leva menos de quarenta minutos para chegar ao local de um assalto. Mas se evita o assunto porque admiti-lo seria concordar que o Bisol estava certo. Também se evita a todo custo dizer quem é o atual culpado pelo descontrole: Germano Rigotto, eleito para governar, mas que até agora tudo que faz é reclamar da falta de dinheiro. Um não-governo, com um não-secretário de Segurança Pública, chamado José Otávio Germano, que defende os policiais em qualquer circunstância, mesmo quando a incompetência deles deixou um serial killer matar mais gente antes de ser preso, quando já se sabia a identidade dele. Ou quando a polícia, chamada para um assalto com reféns, simplesmente não apareceu e deixou um morador ser morto. É que por trás de tudo existe a sombra do petismo. Há um medo geral na mídia de que caso critiquem a incompetência geral na área de segurança, a população possa se perguntar sobre os culpados. Não é só no RS, na verdade. Em São Paulo a violência está fora de controle, mas ninguém culpa o Alckmin. Até o casal Garotinho é aliviado nesse quesito. Trata-se a violência hoje como se fosse natural, como a chuva ou o vento. Então os crimes passam a ser noticiados, alguns com mais ou menos destaque, mas nada além disso, nenhum reflexão, nenhuma cobrança. A polícia leva um tempão para atender assaltados? Normal. As pessoas perderam o direito de ter carro? Normal. E se alguém reclamar, a culpa é da política econômica. Ou, como alega a polícia cinicamente, das próprias vítimas, que não instalam câmeras e grades ou contratam seguranças. O Rio Grande do Sul tem crescimento econômico e industrial acima da média do país. O estado não tem problema de migrantes, não tem que resolver os problemas sociais do Nordeste, como o Rio ou São Paulo. O número de pobres de outros estados aqui é mínimo. Daí essa incompetência ser maior. O RS não tem grande tráfico de drogas, mas não consegue controlar a violência. Não é destino do tráfico de armas, mas não consegue controlar a violência. No Rio, há mais ou menos dez mil policiais para tomar conta - e muito mal - de cinco milhões de pessoas. Em Porto Alegre, são mil e duzentos para um milhão e meio de pessoas, conforme disse o Onix Lorenzoni (candidato ligado ao governador) na campanha eleitoral. Considerando que eles trabalham em turnos de três dias, são quatrocentos policiais por dia. Corruptos, incompetentes e, além de tudo, poucos. # alexandre rodrigues | 24 de novembro Comentários (1) | TrackBack (0) |
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