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Não te preocupa, disse Dirceu vai gostar disso. Sabe, anda precisando de emoção na vida... Estava? Gostava da vida como era. Acordar. Tomar café. Ler o Ostermann. Pegar o ônibus. Trabalhar. Almoçar. Trabalhar. Voltar para casa. Às vezes ir ao cinema antes. Jantar. Em algum momento, antes de dormir, tocar uma punheta. Ler um pouco. Dormir. Vida de viúvo é assim. Ou se casa de novo ou se acostuma à solidão. No seu caso, nunca foi problema. Nunca suportou mesmo a presença dos outros, exceto de Aurora. Não se tratava de acomodação, a famosa preguiça de procurar alguém, mas de preferir ficar só. Além do mais, era fácil. Sempre que a necessidade se avizinhava, se acalmava com uma punheta. Gozava e melava a mão de porra, esfregava na outra mão, entre os dedos, deixava tudo pegajoso, colando, e depois de um tempo ia se lavar. Já voltava com um livro na mão. Adorava Fernando Pessoa. Outro pedaço do conto do anão, já apresentado em algum lugar abaixo. |
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