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A pena silenciosa Diz-se que o Movimento dos Escritores que trocaram a Literatura pela Vida (MELVA) se iniciou com o famoso autor de best-sellers George Roberto, que certo dia, vendo chegar ao fim o prazo para entregar à editora seu novo e esperado sucesso, percebeu que não tinha a mínima idéia do que escrever. Foi então ao quarto, olhou seu grande bigode no espelho, tirou de uma caixa de sapatos o revólver herdado do pai e saiu de casa para assaltar um banco. Outro expoente do MELVA é Lamúrio Castelo, escritor de densos romances históricos que, decidido a transformar seu próximo livro em um épico sobre um maquinista da Europa central, achou por bem primeiro sair de trem pelo Velho Continente. Ninguém sabe o que aconteceu depois disso. A versão mais aceita é que acabou sem um olho e agora percorre a Transiberiana de ponta a ponta, indo e voltando, usando a única vista boa para atirar nos bandoleiros que tentam parar o trem. Nenhuma referência ao MELVA pode, todavia, estar completa sem citar Arthur Canavial, poeta neoparnasiano, que um dia pretendeu escrever a ode definitiva à perenidade da existência. O poema último. Para isso, precisava saber como se sente um morto. Em nome da literatura, fez o sacrifício maior, atirando no próprio peito. Agora passa a eternidade no andar de cima de uma mansão vitoriana, se lamuriando pelos corredores e sendo avistado apenas pelos incautos e os muito impressionáveis. Nunca mais escreveu. # alexandre rodrigues | 28 de março Comentários (0) | TrackBack (0) |
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