| ![]()
« |
Home
| »
Maus hábitos Essa história do plágio da IstoÉ já é a segunda do ano. Houve primeiro a matéria da Zero Hora que plagiou quase na íntegra outra de uma revista de turismo sem que o jornal tenha se retratado. A desculpa foi de que o repórter recebeu a matéria de um órgão de divulgação turística, achando assim que poderia copiá-la e depois pôr o próprio nome como autor, o que já seria estranho. Não deu em nada e logo o assunto foi esquecido, o que é certo que acontecerá agora (é claro, o repórter nunca mais poderá aparecer com uma entrevista com uma celebridade sem ter de provar que a fez mesmo). Em SP, na década de 80, um famoso crítico de música tinha o mesmo hábito. Na antiga revista Bizz, ele acabou desmascarado depois de publicar uma história do punk depois destruída por um leitor que descobriu um texto igual, de outro autor, publicado oito anos antes em outra revista. A carreira do cara acabou? Não, ele continuou fazendo falsificações até que foi descoberto de novo, desta vez no Estadão, e saiu de circulação. Voltou, contudo, à cena em 2001, no Paquistão (!?), cobrindo a invasão do Afeganistão. Sempre houve a figura do repórter "cascateiro", que inventa matérias. O próprio termo "cascata" já perdeu o sentido pejorativo. Quando repórteres dizem que têm uma "cascata" nas mãos na maioria dos casos é só uma história. Mas há coisas como este exemplo: há uns dez anos os seguranças de uma empresa de ônibus da Baixada Fluminense mataram uns rapazes que desceram do veículo sem pagar passagem. Um repórter bastante conceituado fez o primeiro dia do caso, colocando, entre outras coisas, que o crime se dera com as vítimas ajoelhadas, pedindo para não morrer. No segundo dia um amigo meu foi cobrir o caso. Voltou à redação, me chamou para um café e contou: - Tudo mentira. O perito me disse que eles morreram com tiros na cabeça, pelas costas. Nenhuma testemunha ouviu os tais apelos. Agora não sei o que fazer. Sabendo como as coisas funcionam e que se dissesse a verdade teria de forçar o jornal a se desmentir (o que criaria um clima de mal estar com os chefes) e se indispor com o colega, mais famoso do que ele, não falou nada. Sem citar as informações anteriores, começou a sua matéria com os fatos verdadeiros. É digna de lembrança também a história do pai fotografado em 98 pelo jornal O Dia cheirando cocaína numa Bíblia, diante dos filhos. O próprio governador do estado depois acusou o jornal o jornal de falsificação. A cena, segundo ele, foi montada . É o negócio. A imprensa estimula estes maus hábitos. Acirra e estimula a competição. Paga (e bem) a quem traz informações exclusivas e, o pior de tudo, não tem rigor em publicar muita coisa, confia demais na palavra de repórteres que sabem que uma mentira pode render um aumento de salário se não for descoberta (e quase nunca é). E a Internet tem levado a falta de ética a limites inéditos. No carnaval de 2004, um portal multinacional de notícias mandou manipular todas as fotos em que aparecia o logotipo da Brahma (inclusive do camarote da cervejaria), já que seu patrocinador era a Schincariol. Onde havia o logo da Brahma ficou uma cor vermelha. A ordem foi dada às claras, com todo mundo sabendo, sem nenhum questionamento ético. Foram para o ar sem nenhum aviso aos leitores de que tinham sido manipuladas. Ninguém, nem a Brahma, notou a alteração. # alexandre rodrigues | 30 de março Comentários (0) | TrackBack (1) |
|