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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Galvão Bueno

- Aquele lá.

- O que tem?

- É o Galvão Bueno.

- Quem?

- O Galvão Bueno. O cara da Globo.

- Da Globo?

- É. Não tá reconhecendo?

- Não. O que ele faz lá?

- É locutor.

- Locutor?

- Vai ficar repetindo tudo o que eu digo? É locutor. Vamos lá falar com ele. Galvão!

- Quem?

- o senhor é o Galvão Bueno?

- O Galvão Bueno? O que é isso? Eu...

- Não mente. O senhor é o Galvão Bueno.

- Mas é claro que não! Eu nem me pareço com ele.

- Não precisa negar. Nós não viemos pedir nada. Nem autógrafo
queremos.

- Que bom, mas realmente...

- Não nega, Galvão Bueno.

- Sem querer ofender...

- Olha só: o Galvão Bueno me tirando para burro.

O homem tenta ir embora, mas o estranho corta a sua passagem, arrastando no movimento a mulher pelo braço.

- Não precisa fugir, Galvão Bueno.

- Cavalheiro, eu já lhe disse e repito, eu não sou o Galvão Bueno.

- É sim.

- Não sou.

- É.

- Não.

- Sim.

- Mas, por favor...

- Então confessa: tu é o Galvão Bueno.

- Nunca!

Tenta escapar de novo. O estranho se move mais rápido, cortando seu caminho mais uma vez. Parado à frente, começa a gritar sem parar "Confessa, vai, Galvão". O outro homem não entende direito o que está acontecendo. Mas que absurdo é esse? Como podem confundi-lo logo com o Galvão Bueno? Nem são parecidos. Olha aflito para a mulher, ainda de mãos dadas com o estranho, mas ela, que se chama Renata, dá de ombros e balança a cabeça, conformada, como a informar que não é a primeira vez em que algo assim acontece.

Uma pequena multidão, atraída pelos gritos, logo se forma em torno dos dois. A maioria ainda tenta entender o que está acontecendo.

- O que foi?

- O Galvão Bueno.

- Aquele ali?

Alguns, sabedores da razão do tumulto, concordam, é mesmo o Galvão Bueno. Outros não aceitam a explicação.

- Não parece o Galvão Bueno.

Nova discordância se instala, com grupos formados de parte a parte, prontos a discutir se é mesmo ou não o Galvão Bueno o homem que, envergonhado por ser alvo da atenção geral, se lança na calçada com a pasta à frente do corpo em nova tentativa da fuga. Sente-se agora culpado por ter resolvido matar a tarde no trabalho, telefonando para o escritório com uma desculpa qualquer. A caminho da diversão, apareceu o chato para estragar tudo. Agarra-lhe o pulso com a mesma ordem sem sentido.

- Fala, tu é o Galvão Bueno.

- Jamais!

Irritado, dá um safanão no estranho, que, atingido de surpresa, tropeça, bate numa vitrine de loja, finalmente cai. As pessoas em volta esquecem as diferenças, se voltam com expectativa para a cena, à espera da reação do homem no chão. O mesmo faz o homem com a pasta na mão, já tentando se defender da surra que, imagina, certamente virá.

O homem no chão olha em volta com uma expressão de mágoa e ofensa, cativando ainda mais os presentes, mas depois começa a sorrir. Dá um tapa na testa, se vira para a mulher e diz:

- Olha só, o Galvão Bueno me deu uma porrada.

Se levanta e limpa a poeira vendo o outro homem fugir correndo e a multidão se dispersar, decepcionada. Na volta para casa, não há assunto que o deixe mais feliz.

# alexandre rodrigues | 11 de agosto Comentários (1) | TrackBack (0)


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