| ![]()
« |
Home
| »
- Aquele lá. - O que tem? - É o Galvão Bueno. - Quem? - O Galvão Bueno. O cara da Globo. - Da Globo? - É. Não tá reconhecendo? - Não. O que ele faz lá? - É locutor. - Locutor? - Vai ficar repetindo tudo o que eu digo? É locutor. Vamos lá falar com ele. Galvão! - Quem? - o senhor é o Galvão Bueno? - O Galvão Bueno? O que é isso? Eu... - Não mente. O senhor é o Galvão Bueno. - Mas é claro que não! Eu nem me pareço com ele. - Não precisa negar. Nós não viemos pedir nada. Nem autógrafo - Que bom, mas realmente... - Não nega, Galvão Bueno. - Sem querer ofender... - Olha só: o Galvão Bueno me tirando para burro. O homem tenta ir embora, mas o estranho corta a sua passagem, arrastando no movimento a mulher pelo braço. - Não precisa fugir, Galvão Bueno. - Cavalheiro, eu já lhe disse e repito, eu não sou o Galvão Bueno. - É sim. - Não sou. - É. - Não. - Sim. - Mas, por favor... - Então confessa: tu é o Galvão Bueno. - Nunca! Tenta escapar de novo. O estranho se move mais rápido, cortando seu caminho mais uma vez. Parado à frente, começa a gritar sem parar "Confessa, vai, Galvão". O outro homem não entende direito o que está acontecendo. Mas que absurdo é esse? Como podem confundi-lo logo com o Galvão Bueno? Nem são parecidos. Olha aflito para a mulher, ainda de mãos dadas com o estranho, mas ela, que se chama Renata, dá de ombros e balança a cabeça, conformada, como a informar que não é a primeira vez em que algo assim acontece. Uma pequena multidão, atraída pelos gritos, logo se forma em torno dos dois. A maioria ainda tenta entender o que está acontecendo. - O que foi? - O Galvão Bueno. - Aquele ali? Alguns, sabedores da razão do tumulto, concordam, é mesmo o Galvão Bueno. Outros não aceitam a explicação. - Não parece o Galvão Bueno. Nova discordância se instala, com grupos formados de parte a parte, prontos a discutir se é mesmo ou não o Galvão Bueno o homem que, envergonhado por ser alvo da atenção geral, se lança na calçada com a pasta à frente do corpo em nova tentativa da fuga. Sente-se agora culpado por ter resolvido matar a tarde no trabalho, telefonando para o escritório com uma desculpa qualquer. A caminho da diversão, apareceu o chato para estragar tudo. Agarra-lhe o pulso com a mesma ordem sem sentido. - Fala, tu é o Galvão Bueno. - Jamais! Irritado, dá um safanão no estranho, que, atingido de surpresa, tropeça, bate numa vitrine de loja, finalmente cai. As pessoas em volta esquecem as diferenças, se voltam com expectativa para a cena, à espera da reação do homem no chão. O mesmo faz o homem com a pasta na mão, já tentando se defender da surra que, imagina, certamente virá. O homem no chão olha em volta com uma expressão de mágoa e ofensa, cativando ainda mais os presentes, mas depois começa a sorrir. Dá um tapa na testa, se vira para a mulher e diz: - Olha só, o Galvão Bueno me deu uma porrada. Se levanta e limpa a poeira vendo o outro homem fugir correndo e a multidão se dispersar, decepcionada. Na volta para casa, não há assunto que o deixe mais feliz. # alexandre rodrigues | 11 de agosto Comentários (1) | TrackBack (0) |
|