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OK, então você tem de ser rico. E branco. E magro. E bonito. E rico. E feliz. E rico. E ficar mais rico, sempre. E saudável, é claro. Seja lá o que isto signifique. E rico. Então tá, você não consegue. Ou só consegue em alguns destes aspectos. Ou só em um. Ou em nenhum. Por exemplo: você não é branco e não tem grana para arcar com as conseqüências? O que você diz? Que voltará para a África ou para a Ásia ou sei lá de que buraco você saiu para não encher o saco dos que satisfazem as exigências supracitadas? Certo, vamos supor que você e todos os outros como você caiam fora, sumam da vista dos ricos, brancos, magros, bonitos e felizes. O que eles fazem agora? Ficam com raiva do fim de mundo onde vocês escolheram se reunir, do continente infecto ao qual vocês estão confinados e do qual nunca mais poderão pensar em se retirar e metem uma bomba atômica para acabar com todos. E depois, o que eles fazem? Inventam subdivisões entre as castas dos brancos, ricos, magros, bonitos e felizes, para terem de quem falar mal? OK, vamos lá: não basta mais só ser bonito, existem os mais e os menos belos. Agora sim! Existem os divinamente lindos, os lindíssimos, os bonitões, os bonitinhos e os... charmosos. Charmoso é bonito? É, alguns dizem que é, sim... não? Então tá, morte a eles. Que caiam fora e voltem para onde vieram. São ricos, brancos e magros, mas não tão bonitos. Ou lindos, ricos e brancos, mas não tão magros. Ou magros, lindos e ricos, mas não tão brancos... ou será que eles já tinham conseguido se livrar dos não tão brancos? Na dúvida, vamos começar de novo. Vamos pular o longo processo e chegar depressa ao fim. Depois de tudo, só restaram no mundo os muito brancos, muito ricos, muito lindos, muito magros, muito inteligentes e muito saudáveis, é claro. Seja lá o que isto signifique. E ricos. Perguntamos: o que eles fazem agora? Conseguirão passar o resto das suas vidas e gerações sendo brancos, ricos, bonitos, magros e felizes? Bom, alguém vai precisar sustentar toda esta mordomia. Afinal os ricos precisam ser servidos, os magros precisam se manter magros (ou será que na utopia só restaram os naturalmente magros, que nem sequer precisam se preocupar em manter a silhueta com horas de academia e comida de dieta? Eles existem), os felizes precisam se sentir cada vez mais felizes, os bonitos precisam ser amados e os brancos... bem, os brancos precisam se esconder do sol, pois se pegarem uma corzinha correm o risco de dar margem a alguma adaptação genética que poderá custar caro mais adiante. Então como é que eles vão fazer? Ora, nesta utopia, todo mundo é rico E branco E bonito E magro E feliz E saudável. E rico. Assim sendo, quem vai descer pra fazer o trabalho pesado? Eu? Já era. Eu era preto, pobre, feio, gordo, doente e infeliz. Tive de ser sacrificado logo no início em nome da paz. # alexandre rodrigues | 8 de novembro Comentários (2) | TrackBack (0) |
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