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Para falar com atraso sobre o post do Träsel (no fundo a minha opinião fundamental sobre tudo), preciso primeiro falar do primeiro ano de mestrado. Relações internacionais são como os Campeonatos Carioca ou Paulista. Economia é como a dupla Gre-Nal: ou você é socialista ou é liberal, com matizes variados (Juventude, Caxias, Brasil de Pelotas) de parte a parte. Mas as Relações Internacionais vão além do cara ou coroa. Há vários tipos de teóricos dizendo que a teoria deles é a certa para explicar o mundo, a guerra e etc. A contenda principal é entre os que pensam que Estados devem fazem o que for necessário para sobreviver e ter poder (realistas), os socialistas (numa teoria aproveitada, já que Marx quase não escreveu sobre o assunto), mais os liberais (que acreditam que tratados, convenções e a ONU servem de verdade para alguma coisa) e os construtivistas, que, resumindo breve, acham que no fundo tudo se resume a uma invenção cuja partícula inicial é o homem comum. Mais interessante ainda é verificar que mesmo os defensores de cada uma dessas teorias sabe que não dá para explicar tudo, tuuuuudo, só com ela. Então, se tratando de quatro pontos de vista, é meio impossível que algum dia alguma vá ser aceita por todos. Gosto do o Realismo. É a teoria do desânimo, do fracasso coletivo da humanidade. O Construtivismo nega a essência da realidade como a compreendemos. Tanto liberais (livre comércio é uma utopia irritante. Acordem! Não vai acontecer nunca e vocês são tão chorões quanto os socialistas. Ah, se a humanidade fosse diferente... Ah, se os líderes dos países fossem mais razoáveis...) quanto marxistas compartilham de uma crença irreal na humanidade. São otimistas demais. Já o Realismo, sem negar um milímetro de que o ideal é um mundo mais justo , onde não exista miséria e nem guerras e que todos respeitem o que está escrito, pergunta a seguir: ok, mas infelizmente o mundo não é assim. As pessoas são egoístas e poder de alguns países cresceu além de onde se possa ter volta. E agora? Agora - respondem os realistas - cada um faz o que é preciso fazer, medindo as conseqüências se não for burro demais para isso e cooperando quando der. Mas por que dizer isso? Porque o Realismo explica tudo, não apenas como um país se comporta. Hobbes explica tudo, A guerra é individual. Você contra alguém ou outros alguéns. Numa sociedade que distribui a riqueza e o bem-estar desigualmente, para que um tenha, outro perde. É inevitável, já que dinheiro ou qualquer riqueza são limitados.Quem tiver mais capacidades ou poder ou dinheiro se dá melhor. Não é o ideal, mas é o que existe. Pode ser revertido? Sim, mas só em teoria. Porque dividir vai contra a essência da humanidade, fora uns pobres coitados que tentam limpar a nossa barra coletivamente. Então, após o longo preâmbulo, dando minha opinião sobre o post, aprendemos o que aprendemos não para ser felizes, mas para nos darmos bem. Informação não traz satisfação, mas traz algum poder. Sabemos para não sermos enganados, para catarmos os farelos que nos joga o mercado, para termos um título e etc. Pouco podemos fazer pelos outros além de torcer. O Vonnegut faz uma parábola magistral em Felicidade Rosewater com um personagem muito rico que passa os dias preguiçoso e entediado numa bela casa à beira de um lago. Volta um pouco no tempo para contar a vez em que, saído de Harvard, o mesmo personagem, com vinte e poucos anos, foi até o escritório do advogado e disse que queria distribuir a fortuna que herdara do pai entre os pobres. O advogado faz uma longa crítica à Harvard e suas idéias liberais e depois diz algo mais ou menos assim: - Bem, tudo o que você conseguiria é criar mais um pobre. Não há mais figuras como Marx. Ali está um bêbado fanfarrão e arruinado, de quem até a mobília foi penhorada, que passa a vida enfiado em bibliotecas, de vez em quando vomitando sobre os escritos, sobrando para o pobre Engels limpar, e de repente, aos trinta anos, muda o mundo com um simples manifesto. Não apenas uma teoria, mas uma teoria de guerra, acompanhada de um manual de ação. Imagino o sujeito inalando odores ácidos de cerveja que emanam da barba, debruçado sobre a mesa com um toco de vela aceso ao lado. De vez em quando pára de escrever e dá uma gargalhada. Vislumbra febril as batalhas de rua que nunca vai ver. Se lamenta por isso. Como fazer um troço desse tamanho hoje em dia? Não temos Smith, nem Locke, Thoureau, Weber, Marx, Heggel... A era dos grandes pensadores acabou. Quem na academia pode ter o tratamento que sempre ouço darem ao alemão Weber, "O grande (sussurro de admiração) Weber"? O pensamento humano encolheu, encolhemos também. A humanidade se reduziu ao tamanho da individualismo, que jamais foi grande. O conhecimento, finalizando, não nos é passado para nos sentirmos bem, mas para tirarmos proveito dele. A minha admiração para quem o usa para tentar mudar alguma coisa, pois acredita que dá para mudar alguma coisa. Eu desisti. # alexandre rodrigues | 28 de novembro Comentários (2) | TrackBack (0) |
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