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A melhor resenha literária da história foi escrita no tempo em que Diogo Mainardi não se dedicava a ser um político sem voto (chato e inócuo, como a política tudo torna). Sobre um livro do Paulo Coelho, começou dizendo que haviam arrombado seu carro e levado até um par de meias usadas, mas não os livros que estavam no banco de trás. Brasileiro – ele conclui – não gosta mesmo de ler, por isso lê Paulo Coelho.

A Economist conta a mesma história. O Brasil é um país de não-leitores. Mesmo entre os adultos com acesso a livros, apenas um entre três costuma lê-los. É um fato que eu já havia notado há muito tempo entre amigos e colegas. Jornalistas, por exemplo, incrivelmente lêem muito pouco, quando isso deveria ser obrigação.

Em média, lê-se apenas 1,8 livro (ficou feio, eu sei) livro por ano. O Brasil, em um ranking de trinta países, ficou com a vigésima sétima colocação, com uma média de 5.2 horas por semana dedicadas à leitura. A matéria cita os preços dos livros como um impedimento, mas não deixa de culpar a histórica falta de atenção à educação no país. Outra explicação – das mais interessantes – é que a maioria dos brasileiros pobres primeiro teve acesso ao rádio e à tevê (a educação primária só foi universalizada nos anos noventa), o que causa desinteresse pelos livros.

Isso não explica, contudo, por que da classe média para cima o hábito da leitura é tão pequeno. A maioria simplesmente não têm prazer com a leitura. Já tive de explicar a um primo certa vez por que insistia em ler quando não era obrigação. Depois de ouvir minhas razões, olhou o pacote de livros na bolsa e devolveu: "Bobice".

A verdade é que o Brasil cultua a ignorância. Não é só uma razão econômica, mas preguiça. Celebridades e empresários, ricos em geral também, até um tempo atrás (antes da Daslusp) não se envergonhavam de ressaltar a condição de semi-alfabetizados. Adoramos a idéia dos "self made men", como Gerdau, Ermírio de Moraes e Roberto Marinho. Não conseguimos produzir, fora o Paulo Coelho, um nome na área do saber que chegue ao grande público. E mesmo os dois milhões vendidos pelo Paulo Coelho a cada lançamento são muito pouco em relação à população.

Este é o momento em que o Chato Renitente vai esfregar suas mãozinhas gordas (Chatos Renitentes sempre têm mãozinhas gordas) e lembrar que o presidente é um péssimo exemplo, pois chegou onde chegou sem estudar, mas o fato de um intelectual ter sido seu antecessor não mudou absolutamente nada. Em 2004 se comprou menos livros no Brasil do que em 1991.

Não é questão de exemplo (a parte que nunca me explicaram é por que as pessoas precisam de exemplos para fazer coisas lógicas como aumentar o próprio saber e, assim, a própria qualificação). Brasileiro é burro mesmo. E é feliz assim.

# alexandre rodrigues | 17 de março Comentários (9) | TrackBack (0)