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Baby Túlio arruinou a fortuna da família nas corridas de cavalos. Tornou-se pobre, tão pobre quanto qualquer um. As pessoas gostam de dizer sobre ele: “Baby Túlio gastou tudo. Ficou pobre”. Os jornais e revistam enchem páginas com a sua decadência. Episódios – verdadeiros ou não – pipocam nas colunas especializadas. Todos se divertem com sua condição, tomados de um prazer sádico e despeitado.

Desde que ficou pobre, Baby Túlio nunca viveu tão bem. Logo após o escárnio, as pessoas de imediato se condoem de sua situação. Não há nada mais mais desamparado do que alguém rico de berço a quem o acaso vem roubar a fortuna. Qualquer um pode viver sem dinheiro, mas depois que se o tem, não é mais possível deixá-lo. Os amigos, a sociedade em geral, sabem disso, gostam de ajudá-lo. Compram-lhe tudo, o necessário e, principalmente, o supérfluo. Tornou-se chique, sinal de extrema posição social, presentear Baby Túlio pessoalmente. Em geral, os visitantes conseguem chegar apenas até Mouro, o mordomo, que recolhe os pacotes com ar superior. Baby Túlio pode estar lendo, pode estar se espreguiçando ou olhando a paisagem da varanda do apartamento enquanto se lembra de alguma herdeira ou estrela do cinema que se aninhou em seus lençóis. É quase certo que esteja ocioso, mas nem por isso vai perder tempo se a visita não for importante. Quando Baby Túlio não aparece, os visitantes vão embora decepcionados, curvados como o peso da própria insignificância social.

Na sua nova condição, ele viaja todos os anos para uma estação na Europa. Ainda se hospeda no mesmo exclusivo e caro clube do qual a família faz parte há décadas. A conta vai para um alpinista social, industrial de porcas e parafusos, que não aceita de bom grado a despesa. Na verdade, Múcio acha um absurdo o estilo de vida de Baby Túlio. “Um vagabundo, Rita”, vocifera para a mulher. Mas Rita, que quer ser aceita no que resta da decadente alta sociedade, acha que Baby Túlio, sempre solícito, pode ser um corrimão. Obriga o marido a pagar tudo, mesmo as despesas mais extravagantes: “É um investimento, ô pateta”. Em muitos aspectos jamais será uma dama verdadeira.

Caso seja eleito, Baby Túlio pretende pôr em prática nas comunidades mais pobres programas que vão resolver o problema da miséria. Alguns como o “Golpe do baú para principiantes” oferecem ampla possibilidade, dado ser fato que o número de milionários vem aumentando. Mas certamente também vão causar polêmica com os intelectuais. Este batalhador das classes privilegiadas não esmorece. “Tenho muito a ensinar. Por exemplo: por que uísque sem gelo pode e vodka, não". Um gentleman.

# alexandre rodrigues | 31 de agosto Comentários (3) | TrackBack (0)