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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Felizmente a campanha pelo voto nulo virou fumaça.

Tornou-se inócua bem antes da eleição propriamente dita diante da sua falta de sentido. Voto nulo não é sinal de nada. É uma maquiagem de indignação, uma revolta de mentirinha. Uma atitude de criança mimada, que quer se revoltar contra a eleição, mas também não aceita pagar preço nenhum.

É um tiro de festim bem ao gosto de brasileiros, essa categoria de cidadãos mundiais que tem como uma das maiores características fugir o tempo todo da briga. É um pacífico, costumam dizer dele. É um medroso – essa é a verdade.

Quem fala em votar nulo deveria estar falando em não votar. Não aparecer na zona eleitoral em nenhum dos dois turnos. Lula é o chefe de uma quadrilha? Alckmin é um carola desqualificado (um candidato que chega a uma semana da eleição sem programa de governo não merece outra definição)? Não vá. Não vote. Pague a multa do TRE, sofra represálias da Justiça Eleitoral. Mas, pelo amor de Deus, tome alguma atitude que não seja comparecer à eleição, como qualquer votante.

Eu não voto desde 1998. Esta será a sétima (primeiro turno) e a oitava (segundo turno) eleição à qual não comparecerei. Com isso, não posso fazer concurso público e alguns impedimentos legais. Sou também devedor de 24 reais à Justiça Eleitoral por todas as ausências. Dane-se. Não voto e não vou votar nunca mais.

Deixei de votar no dia em que percebi a completa falta de compromisso do sistema político de tocar no verdadeiro e grave problema. Agora mesmo o país queima todos os anos cento e sessenta bilhões em juros. É o maior sugadouro de dinheiro que há na economia, mas nenhum deles se dispõe a mexer nisso. Falam na Previdência e na reforma política. Querem reforma tributária para dividir os impostos, mas a parte dos juros, bem, essa ninguém fala em tocar. Seja quem for o eleito, os juros continuarão sendo pagos, os bancos quebrarão recordes de lucro a cada trimestre e a discussão se desviará por este ou aquele escândalo por migalhas.

Se algum dia precisar, pago a multa à Justiça (eis a maravilha brasileira, faltar à eleição causa vários problemas, mas basta pagar três reais por votação e tudo ficam bem), mas não voltarei a votar.

Se a multa é tão baixa, por que esses indignados não faltam? Fora os funcionários públicos, que precisam do comprovante de votação para receber o salário, a maioria não vota porque sua revolta não é tanta que faça enfrentar alguma coação por causa dela. É uma revoltinha, por assim dizer. Sua indignação é bastante para escrever alguns e-mails e posts, mas não para fazê-los ficar em casa. Não para fazê-los pagar o preço, mesmo que irrisório.

Essa discussão do voto nulo é no fundo reflexo de falta de coragem. Brasileiro se indigna fácil. Atire uma pedra da janela do apartamento e é capaz dela cair na cabeça de um revoltado. Mas se indigna e só. Brasileiro também detesta pagar o preço. Vai ficar indignado a vida toda e nada acontecerá, o que só levará a mais revolta inócua.

E depois virá outra eleição e mais protestos. Mas não vão longe. Brasileiro pode até se revoltar, mas só se não der trabalho.

# alexandre rodrigues | 25 de setembro Comentários (10) | TrackBack (0)


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