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É estranho que uma das poucas renovações de verdade ocorridas na política em 2006 tenha sido a aparição de um senhor de quase oitenta anos. O que o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo escreve no Terra Magazine é a essência do fracasso do Brasil como país, como projeto, fora os exemplos de sempre, como qualquer coisa que se possa relacionar a sucesso. Um professor, uns dois anos atrás, pegou a história dos chaveiros durante o Império* para dizer que ninguém deve se iludir, que o Brasil não é vítima de nada, apenas se tornou aquilo que foi planejado para ser. O texto de Lembo me remete à vontade de ir embora que o raciocínio a respeito costuma me causar. Tudo ainda ficará mais violento, mais pobre, mais inculto, mais mal educado, mais canalha. O resumo do futuro é o parágrafo que encerra o trecho abaixo: "Percorreu-se quinhentos anos para se voltar ao mesmo lugar. Antes somente em Pernambuco, Bahia e São Paulo se estabeleceram os engenhos e, entre eles, o primeiro investimento estrangeiro em terras brasis: o Engenho do Erasmo, hoje objeto de trabalhos arqueológicos na cidade de Santos. Tanto esforço e luta para se voltar à monocultura. É impressionante. Substituíram-se as importações, em esforço sem igual da sociedade brasileira, a partir dos anos 30. Agora, volta-se ao começo. Tudo igual. As terras agriculturáveis utilizadas para o plantio da cana de açúcar. As praias da imensa costa vendidas à pequena burguesia européia e, como no passado, trocadas pelo valor de espelhinhos, encanto dos habitantes nativos. E se tanto não bastasse, soldados, acantonadas nos desertos da antiga Pérsia, em suas férias, chegam às praias em busca de luxúria, tal como aconteceu quando do desembarque dos primitivos colonizadores. Estranho destino. Lutou-se durante séculos e retornamos ao mesmo lugar. Não há nesta constatação melancolia ou ceticismo. Apenas a consciência de que nestas terras tropicais caminha-se, caminha-se, e se retorna sempre ao ponto de início de caminhada". * Durante o Império, os chaveiros que possuíam escravos ficavam ao lado deles em seus locais de trabalho. Quando chegava um cliente, os escravos carregavam a maleta até a casa do cliente e o chaveiro fazia o serviço. Se o escravo não estivesse presente, o cliente tinha que esperar a sua volta, pois o chaveiro se recusava a carregar sozinho a maleta. Era considerado impróprio que um cidadão livre carregasse uma maleta de ferramentas pela rua. Fazer o serviço de um escravo, trabalhar duro, enfim, pegava mal. # alexandre rodrigues | 13 de março Comentários (2) | TrackBack (0) |
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