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1922-2007

O Los Angeles Times e o New York Times fizeram belíssimos obituários sobre a morte de Vonnegut. Indo além da protocolar notícia que tem marcado todos os textos, o New York Times percebeu que a obra dele lida com as questões básicas da existência humana: por que estamos nesse mundo? No fim das contas, Deus, apesar de fazer todo mundo sofrer, quer bem à humanidade?

O primeiro livro que li dele foi Pastelão, sobre um homem com a cabeça grande e burro demais para ser outra coisa senão o presidente dos Estados Unidos. Logo a seguir veio Matadouro 5, sobre viagens no tempo e as lembranças do bombardeio de Dresden, cidade alemã destruída (nunca ficou certo se havia necessidade ou não do ataque) numa única noite na Segunda Guerra. Vonnegut era prisioneiro alemão e teve de ajudar a retirar os corpos carbonizados dos moradores de dentro das casas.

Mas o choque veio com Breakfast of champions.

A construção é escandalosa, chocantemente simples. Vonnegut o escreveu ao completar cinqüenta anos. Quis abandonar todos os personagens anteriores. Fez o livro para se despedir de Kilgore Trout, o personagem-escritor de ficção científica obscuro e fracassado, seu alter ego.

Um livro dedicado a narrar um encontro entre Trout e um vendedor de carros cujas substâncias químicas em sua cabeça o levam progressivamente à loucura trancorre em pequenos parágrafos que se dedicam a enumerar brevemente as histórias de ficção científica criadas pelo personagem, reflexões do autor e a explicação ilustrada do que há de importante para se ver no nosso planeta, seja um fusca, uma jaqueta de couro, uma cobra ou um cu.

Essa simplicidade nunca foi bem entendida. Críticos chamavam o livro de desconexo. Mesmo fãs o atribuem a um experimentalismo e preferem as obras mais coerentes. Mas estão ali as respostas. Um monte delas. Vonnegut prova que é possível dialogar com o leitor sem perder a mão. Que este não merece condescendência. Que no fim das contas todos somos seres patéticos e, dada essa condição, não precisamos nos levar a sério (coisa que todo mundo diz que não faz, mas faz). Que a trama pode passear por onde quiser desde que você saiba o que está fazendo. Tem o melhor último capítulo que já foi colocado em um livro, genial até a última frase. Até a última palavra.

A vida ao mesmo tempo é e não é uma piada. Quase tudo que é engraçado também pode ser triste ou vice-versa. Deixou lições de que as experiências pessoais não valem um centavo de literatura se não forem pensadas como ficção (Matadouro 5). Que uma história de amor (Mother Night) pode torcer seu coração e mesmo assim ser engraçada. E que se um homem-peixe pode ser o personagem principal (Galápagos), cada um é realmente livre para escrever o que quiser.

Sabia fazer uma história fluir como ninguém.

# alexandre rodrigues | 12 de abril Comentários (5) | TrackBack (0)


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