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Nunca se vendeu tantos livros. Nunca houve tantos leitores. Aqui no Brasil nunca autores consagrados foram publicados tão rapidamente a ponto de A praia, de Ian Mcewan, ter sido lançado agora pela Companhia das Letras semanas depois de ter saído na Inglaterra. Dez anos atrás, quando queria encontrar certas obras, era obrigado a um périplo por sebos, deixando o pedido anotado para o caso de surgir um exemplar. Um belo dia me ligavam e avisavam que estava lá. Eu pagava um preço obsceno e levava a raridade para casa. Hoje em dia as reedições de uns 70% deles estão permanentemente à venda. O mercado de livros cresce sem parar, mas não para todos. Ao mesmo tempo em que as vendas aumentam, livrarias fecham as portas. Nos Estados Unidos, em 1991, havia 5.200. Em 2005, eram 1.702. Talvez menos hoje em dia. Não duvido que vá ser diferente se for feita a mesma conta no Brasil. A explicação americana vale para os dois países: é o preço, dummy. Grandes redes, como Cultura, Fnac, Siciliano ou Saraiva, são capazes de vender barato para um público que só quer comprar um livro. Oferecem importados em conta e equilibram os lucros entre livros, revistas, CDs e DVDs. Apostam mais nos sucessos de marketing, auto-ajuda e manuais do que propriamente em literatura. A frase de Steve Riggio, de uma grande rede americana ao Village voice, também podia ser dita aqui: "We're not investing in intellectual properties that have a lot of high risk associated with them". A verdade: as pessoas preferem comprar nelas. Livros, para clientes e redes, são só um produto. A própria sensação de conforto que me invadiu na El Ateneo, de Buenos Aires, é relativa. A livraria estava lotada, mas havia brasileiros por todo lado. O prédio é uma atração turística da cidade, as pessoas disparavam máquinas fotográficas sem parar. Os vendedores eram tão idiotas lá quanto aqui. Os dois maiores displays eram de Paulo Coelho e Bruna Surfistinha. Tudo isso para dizer que ficarei muito triste se algum dia a Palavraria sucumbir também. Em 2003, havia quatro livrarias no Bom Fim. Hoje são duas. Um sebo, o Mosaico, se mudou para o centro. Duas fecharam mesmo. Uma nova abriu. A Palavraria é a única original. Com alguma concessão a livros acadêmicos e uns poucos CDs, prioriza literatura. Não é impessoal. Serve um bom café. Os donos gostam de conversar sobre livros. A Palavraria preencheu, em Porto Alegre, o lugar que foi da Letras & expressões quando eu morava no Rio. Em 1997, a Luzia foi passar umas semanas na cidade. Eu trabalhava até a meia-noite no jornal, chegava meia hora depois a Copacabana e caminhávamos até a livraria em Ipanema que nunca fechava. Geralmente esperávamos amanhecer para pegar o ônibus de volta. Na minha última visita à cidade, soube que a Letras & expressões tinha passado a fechar à noite. Tinha sido assaltada várias vezes. Era ameaçada pelos traficantes quando havia ordens para o comércio baixar as portas. Obedeceu. O Rio sempre dá um jeito de se tornar um lugar pior. # alexandre rodrigues | 4 de julho Comentários (6) | TrackBack (0) |
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