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A Livraria do Arvoredo, no Moinhos de Vento, era das poucas de Porto Alegre que ainda merecia alguma consideração. Ficava numa esquina da Padre Chagas. Tinha um acervo pequeno, mas muitos livros policiais, além de duas prateleiras grandes de literatura e um bom repertório infantil. Fechou.

Na vitrine, por trás das grades, ainda estava o aviso de que no último dia de portas abertas cada livro foi vendido à vista pela metade do preço. A livraria agora cederá à ampliação do antigo café da livraria, transformado em um "botequim carioca", a praga fake que imita bares do Rio e que pensava estar circunscrita a São Paulo, mas que, pelo jeito, se espalhou pelo país, pois a duas quadras há outro "botequim carioca" com este nome mesmo: Botequim Carioca. Prevejo para breve uma matéria qualquer sobre a "moda dos botequins cariocas", que provocará uma febre desses instalações. Haverá um quadro no texto mostrando o que faz um "botequim carioca", coisas como uma imagem de São Jorge, que pode ser de veludo, pois fica mais estiloso. Virão depois os comentários de colunistas, que, a não ser os verdadeiros, no Rio, não aguentam mais os botequins cariocas e a moda começará a arrefecer.

Isso e mais a venda do prédio da Livraria do Globo, que desde muito tempo tinha entrada para a Rua da Praia e agora – segundo o aviso colocado na vitrine – será um cubículo virado para o camelódromo. A Livraria do Globo, a bem da verdade, exceto pelos 20% de desconto oferecido todo dia 20, não costumava freqüentar. O prédio é histórico e bonito, há um maquinário antigo à mostra, mas de livros não havia quase nada. Nem para matar tempo servia. Se, no entanto, continuasse sendo livraria, sempre haveria a possibilidade de melhorar a oferta de livros, o que não poderá mais fazer.

No conto "A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro", Rubem Fonseca faz o personagem vagar pelo centro tentando ensinar a uma prostituta sobre os sobrados e a história da cidade que não existe mais. É uma homenagem comovente ao Rio que um dia ainda tentou ser interessante. Lembro do olhar de quase desgosto do meu pai, dez ou onze anos atrás, comigo no mesmo centro, mostrando antigas livrarias, leiterias e cafés transformados em lojas de tecido e de 1,99.

Lojas fecham, lugares entram em decadência. É da natureza das cidades. O ruim é quando não surge, mesmo em outra parte, nada no lugar. Quando quis fazer mestrado em literatura, acabei lendo "Cidade e alma", de James Hillman, que trata da perda da alma das cidades. A arquitetura é o espírito de um lugar, mas há algo mais: aquilo que o lugar pensa de si e quer ser. Porto Alegre é estranha. Ao mesmo tempo em que recebe uma exposição do Goya, em breve será uma cidade de livrarias só nos shoppings.

# alexandre rodrigues | 14 de agosto Comentários (5) | TrackBack (0)


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