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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Uma palavra, um trecho

Pulga

– Inspirado nesse pensamento, decidi escrever a biografia de São Marrom, um grande mártir, membro da família dos parasitas. Se estiver interessado, poderei lhe fazer um breve resumo da vida dele.

– Por favor, faça isso – encorajou-o Balso. – Viver e aprender é o meu lema, sr. Maloney. Assim sendo, por favor, continue.

– São Marrom era uma pulga – Maloney, o Aeropagita continuou, com voz bem treinada. – Uma pulga que nasceu, viveu e morreu embaixo do braço de Nosso Senhor.

– São Marrom nasceu de um ovo que foi depositado na carne de Cristo quando, ainda bebê, Ele brincava no chão do estábulo, em Belém. Que a carne de um Deus tenha sido um estágio na gestação de mais um ser é fato bem conhecido: Dionísio e Atena são exemplos disso.

– São Marrrom teve duas mães: a criatura alada que depositou o ovo e o Deus que o chocou em sua carne. Tal qual a maioria de nós, Ele teve dois pais: o Pai Nosso que estais no céu e aquele a quem na infalível certeza de nossa juventude chamamos de "pá".

(...)

– Em sua juventude, São Marrom peregrinou longe do lugar onde havia nascido, a pequena bolsa de cabelos sedosos, o sovaco de Nosso Senhor. Vagou pela floresta do peito de Deus e atravessou a colina de seu abdome. Mediu e sondou aquele poço insondável, o Umbigo de Nosso Senhor. Explorou e mapeou cada fenda, cume e caverna do corpo de Cristo. A partir de anotações feitas durante suas viagens, ele mais tarde escreveu sua maior obra, Geografia de Nosso Senhor.

– Cedo ou tarde demais, ai!, o dia do martírio chegou (O Jesu, mi culcisime!) e os braços de Cristo foram erguidos para que Suas mãos pudessem receber os pregos.

– As paredes e janelas da igreja de São Marrom racharam e seus corredores inundaram-se com sangue.

– O sol quente do Calvário queimou a carne embaixo do braço erguido de Cristo, fazendo com que a pele, que era como uma pétala, enrugasse até ficar parecida com o sovaco muito depilado de uma atriz velha.

– Depois que Cristo morreu, São Marrom morreu, recusando-se a fugir para uma carne de menor importância, mesmo a de Maria, que estava em pé embaixo da cruz. Com suas últimas forças, ele rechaçou o verme invencível...

(Nathanael West – A vida alucinada de Balso Snell)

# alexandre rodrigues | 6 de setembro Comentários (2) | TrackBack (0)


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