Samjaquimsatva






Insignificâncias sobre a violência

Nunca fui assaltado. O máximo que aconteceu comigo foi quase ter um boné roubado, quando tinha 15 anos, mas descobriram que eu era amigo de um integrante da gangue. Já corri de ladrão de tênis, na praia, e só. Mesmo assim, quase toda semana ouço notícias de algum amigo que teve o carro roubado, que teve uma arma apontada na cabeça. Me assusta o fato de cada vez mais isso ser contado e ouvido com tanta naturalidade.

Quando mudei pra Campinas, o apelido da cidade dado pelos jornais era Colômbia brasileira. O índice de sequestros era altíssimo, as mortes cada vez mais bárbaras. A onda de violência culminou com a morte do prefeito da cidade, o Toninho do PT. Vim com medo, mas acabei me esquecendo dele. Até hoje, em quatro anos, nunca me aconteceu nada. Sorte, pois a violência sempre acontece ao lado. Semana passada tentaram assaltar meu vizinho, que saia com o carro da garagem. O maluco reagiu, tentou atropelar os três assaltantes. Quase conseguiu, mas teve sorte de não terem atirado.

A mídia tem grande culpa em deixar uma cidade com a fama de violenta. O Rio de Janeiro talvez seja o grande exemplo disso. Surreais as notícias da guerra entre o tráfico, das pessoas nas estradas tendo que se entrincheirar no concreto que separam as pistas. Vítimas de balas perdidas e o tráfico agindo abertamente na rua mostra uma cidade sem lei. Mas o Hermano e o Alexandre Rodrigues, por exemplo, nunca foram assaltados no Rio. Já em Porto Alegre, o Alexandre foi assaltado três vezes. Quer ficar paranóico? Assista o Linha Direta ou Cidade Alerta e vá dar uma volta na cidade. Se alguém perguntar as horas a gente assusta. É difícil saber qual a verdadeira proporção da violência.

Parece que agora um onda de violência assola Porto Alegre. O Bruno postou sobre. Me mandou vários links do noticiário policial da cidade. Crimes bárbaros, de crueldade sem limites, que parecem acontecer a cada semana. Atirar pra matar seria um caso de bondade do assaltante. Não dá pra entender o que gera isso. Talvez o desprepado do governo em reprimir a violência comum que leve a esse fim dos limites.

Tomo precauções mínimas para não ser assaltado. Não deixo carro na rua nem ando a pé por Campinas depois que escurece. Mas ando de ônibus com uma câmera digital em mãos. Ou fico completamente neurótico com medo de todo mundo, ou desencano e faço o que gosto. Mas a sensação de que em alguma hora, a violência que afeta a grande maioria das pessoas, chegará até mim, é cada vez maior. É o medo da violência que há muito tempo não poupa ninguém.

O mesmo medo que tenho da violência só se compara talvez com o medo que tenho da Justiça. Todo mundo conhece alguma decisão absurda por parte da Justiça. Pagando um "bom" advogado, se consegue absolutamente tudo nesse país, vide Suzana Richthofen, réu confessa que matou os país que aguarda julgamente em liberdade. Enquanto milhares de outras pessoas esperam anos presas para serem julgadas, vivendo como condenadas. Muitos casos grotescos. Mas precisamos abstrair essa realidade, senão criamos um mundo Cidade Alerta dentro de nossas cabeças. E não conseguiremos parar de pensar que cedo ou tarde, a violência e a maldade que nos cerca finalmente nos dará as caras. É o preço de vivermos num país campeão de desigualdade social.