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janeiro 12, 2007

Síndrome de elevador

Tenho uma coisa com elevador. Quando entro sozinho em um, me dá medo. Sempre acho que vai acontecer uma pane inesperada, a porta vai trancar, ele vai parar no meio do andar, vai faltar luz. Elevadores mudam até mesmo minha personalidade: se eu estiver em um e você precisar que eu segure a porta, bau bau. Em elevadores, quanto menos gente melhor - vai que o troço cai por excesso de peso.

Quando estou em um elevador tento me concentrar nas coisas que tenho pra fazer na semana, aproveito pra ter alguma idéia, pensar em como cortar algum gasto pessoal, compôr uma canção, escrever algo.

Dia desses o elevador da empresa me fez lembrar que viveremos mais um Big Brother. Quase no sexto andar tive uma sensação de alívio por saber que o programa já está na sétima edição. A longevidade o incorporou ao nosso cotidiano e, hoje, ignorar um Big Brother é tão fácil quanto ignorar uma novela, o Globo Repórter ou os (péssimos) programas de humor da Globo. Depois de tantas edições, afinal, já fica bem claro quem gosta e quem não gosta de se espelhar na frente da televisão. Eu, sinceramente, não não tenho nenhum amigo que gosta (cortei relações com os que assistiam já na terceira edição).

Apesar de não acompanhar o programa, pude notar que a edição deste ano quebra os dois paradigmas mais importante da história do "jogo" no Brasil. Ao contrário das outras vezes, em 2007 você só verá gostosas e saradões na tela. Chega de colocar a tia, a gorda e a desajustada pra dar "equilíbrio" na casa. Os gordinhos, os feiosos, os fora-de-padrão também não tem mais vez. Foi adotado o casal-padrão "modelete e bombadão de academia", um sinal claro de que a direção do programa resolveu assumir que o espectador de Big Brother quer mesmo é comer as gostosas e dar para os gatões. Quem vê o programa gosta é de uma bela putaria familiar sob os lençóis.

Outra mudança importante é que nenhum dos participantes me pareceu preocupado em esconder suas intenções. Pelo que vi nas propagandas, todos deixam bem claro que, por um milhão de reais, topam cara feia, aceitam dar rasteiras, não estão nem aí pra moral. A ordem na casa, ao que parece, será a do quem pode mais chora menos. Ao menos não fica aquele jogo de mentirinha, do tipo "a gente vai ser amigo fora daqui". Os novos participantes já sabem que isso não funciona e que o Big Brother é, de fato, talvez a única chance que um Zé Roela tem pra se dar bem na vida.

Agora vai dar uma espiadinha, vai.

janeiro 6, 2007

Quer pagar quanto?

Incrível perceber que a data do aniversário é a única que mantém pureza na comemoração. Aniversários, ainda, são alvos difíceis de serem atingidos pela publicidade. Campanhas são caras demais pra se ter aquela enxurrada de vídeos, áudios e placas todo o santo dia do ano. Imagina o cara das casas Bahia entrando em cadeia nacional, gritando hitericamente meu nome e me perguntando "quer pagar quanto?". Deus.

O cara que inventou o calendário é um gênio que nos livrou da pentelhação eterna. É claro que ainda recebo mensagens da companhia de telefone celular, do Grêmio, do meu provedor de internet. Mas até aí tudo bem - é bom saber que sou querido por softwares de computador programados pra disparar mensagens-padrão. No fundo, o Vale do Silício também ama.

Hoje é meu aniverário e passei o dia tentando comprar um barril de chopp. Infelizmente descobri que não há barris de pequeno porte. Estou em uma cidade que não é a minha, meus amigos não estão aqui e minha intenção era embebedar uma pequena horda de amigos dos meus cunhados. Uma pena você não ler meu blog em Passo Fundo.

Acabei comprando uma centena de garrafas de cerveja e, pra me prevenir, pedi pro cunhadão providenciar uma ambulândia pra fazer plantão na porta da casa. "Não se preocupe: já chamei um papa-entulho". Tá bom.

Vou lá beber a sua parte.

janeiro 3, 2007

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Entrei em meu blog ontem e vi uma janela em branco, vazia. Nenhum post havia sido cometido desde o mês passado e os softwares do publicador fizeram a única coisa que lhes foi ordenada a fazer nessas situações: se não há nada do mês de dezembro, então vamos deixar que o nada tome conta da página. Softwares precisariam vir com coração.

Um blog vazio desperta emoções distintas. Primeiro vem uma desculpa clichê, do tipo "mas eu ando sem tempo até pra ir ao cinema". Depois caio numa contradição existencial, lembrando dos diversos momentos de ócio que tive e não compartilhei com meu singelo diário do cotidiano. Por fim, senti um vazio enorme em pensar que minha vida, no fundo, pudesse andar tão sem assunto como as páginas do blog. "Sou um merda, afinal", pensei antes de virar a página.

Só quem tem um blog ou quem teve diários na adolescência pode entender o que é a página vazia, o mês passado em branco, mais de 30 e poucos dias sem ter o que dizer. "Desculpe, eu...".

O pior em manter um blog sem atualização até nem é perceber que seu amor-próprio perdeu uma perna: é sacar que as pessoas que gostavam de ler seus textos ficaram de mau com você. A Simone me colocou como padrinho de seu blog, e hoje sequer me oferece pautas - coisa que fazia todos os dias. A Simone é um case do leitor desiludido. A Simone tá de cara comigo e a única coisa que eu consigo dizer é "desculpe, eu...".

Voltar a escrever é tão primitivo quanto voltar a pensar, imagino. Neste exato momento me sinto como se estivesse saindo de um coma voluntário, minha visão está torpe, chove pra todo o ano lá fora mas os pingos enormes da chuva (que eu sei, estão lá) não são mais captados por meus tímpanos. Voltar a escrever é anular as ondas magnéticas. Voltar a escrever, em última instância, é relembrar aquela viagem de ácido que Jim Morrisom nunca teve.

Viajemos então.
Prometo não vos abandonar.