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Se hoje fosse qualquer dia entre 1988 e 1995, Alexandre Rodrigues acordaria cedo, tomaria café, iria lendo até o trabalho, chegaria à redação, pegaria carro e fotógrafo e iria cobrir essa megachacina. Depois voltaria ao jornal, almoçaria tranquilamente, escreveria cinco ou seis matérias sobre o assunto e iria para casa com a consciência do dever cumprido, não sem antes ver os filmes com as fotos dos mortos, ajudar a escolher as melhores, etc. Os anos de Baixada Fluminense como repórter policial criaram a rotina de insensibilidade. É como cobrir uma guerra. Olhar impassível alguém chorando o filho, o marido, fazer um silêncio falsamente respeitoso só para esperar o momento de conseguir a informação desejada. Não tem outro jeito. Não dá para se envolver ou se emocionar (o que mais fazer quando uma cabeça cai da mesa do IML e rola até os seus pés?) sob a pena de não fazer outra coisa. Os mortos de hoje são só o prelúdio dos mortos de amanhã. É preciso desumanizar. Pensar um corpo só como um pedaço de carne morta (mesmo decapitado ou carbonizado) que nunca teve vida anterior. Dez anos depois de largar essa vida ainda me sinto menos humano. # alexandre rodrigues | 1 de abril Comentários (7) | TrackBack (0) |
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