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Tem gente que odeia as pessoas mais inusitadas pelos motivos mais banais. Eu não. Tenho justos motivos para odiar o Antônio Calmon. Calmon hoje em dia é autor de novelas da Globo. Coisas como Vamp, Armação Ilimitada e outras obras "jovens", na qual costuma ser apontado como especialista. Foi assistente do Gláuber Rocha. É também roteirista ou diretor de alguns filmes brasileiros dos anos 70 e 80. É pelo último quesito e por nada mais o meu ódio. Calmon é responsável pelos meus pais não irem ao cinema desde 1977. Passados trinta anos, não cogitam retomar o hábito. Já está claro que não vão mesmo voltar ao cinema e tudo por causa de uma coisa chamada Nos embalos de Ipanema. Mais especificamente pelo diálogo a seguir: Ator: – Eu dou tudo pelo meu filho. O filme nos últimos anos veio ganhando a fama de clássico da pornochanchada. Não é. Clássico é Giselle ou Os sete gatinhos. Nos embalos de Ipanema não passa de uma das muitas versões de Menino do Rio que Calmon escreveu para o cinema ou tevê. Filminho chato, pretensioso e bobo sobre um surfista suburbano que anda de trem e se deslumbra com a "alta classe" de Ipanema. Se apaixona pela Zaira Zambelli e, como não tem dinheiro, se prostitui para poder circular entre os novos amigos. Menino do Rio é pelo menos tolerável, embora quem o tenha visto no cinema na época talvez se lembre como era irritante o público. As pessoas em volta cantavam todas as músicas em voz alta, como se não estivessem vendo um filme. Se na época dos musicais era assim, foi um favor a todos nós que tenham deixado de ser produzidos. Há também quem diga que o filme de Calmon marca o início de uma linguagem irreverente no cinema brasileiro. Por favor. Se por irreverência se entende humor, é melhor ficar com Os paqueras. Se é porque faziam sucesso, vale muito mais estudar os filmes dos Trapalhões, que exigiam a chegada duas horas e meia antes do filme (uma sessão inteira era passada na fila da próxima). Se o negócio é ver as virtudes de Nos embalos... por causa de uma pretensa luta de classes, então Tom Wolfe estava mesmo certo. Em A palavra pintada ele diz que arte abstrata só é respeitada porque criaram uma explicação. O artista não cria uma arte universal e sim elabora um conceito, que precisa ser explicado para que o público entenda que aquela pilha de folhas de papel em branco não é uma pilha de folhas de papel em branco, mas o distanciamento do autor de sua produção, delimitada pelo lugar onde a pilha foi colocada. Ah, bom. Mas talvez o que Nos embalos... precise seja do próprio autor explicando-o. O filme seria exibido e no momento do diálogo, pararia tudo. Calmon diria que quis demonstrar a falta de humor na sociedade brasileira da época, além da incompreensão do homossexualismo em plena repressão do regime militar. Se algum dia ele fizer isso, vou assistir. E em nome dos meus pais, jogo um tomate nele. # alexandre rodrigues | 19 de janeiro Comentários (1) | TrackBack (0) |
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