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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Momento trocadilho-infame-vespertino-dominical

Não seria nada chato um filme sobre Jean Cointá, o maior chato da história do Brasil. Ele veio para o Rio de Janeiro na época da ocupação francesa, mas, herege, arrumou briga com todos, pois, além de debochar de Deus, também gostava de se gabar de seu título na Sorbonne. Acabou exilado da ilha de Villegagnon e teve de ir morar no litoral, onde acabou preso pelos portugueses.

Então mudou de lado, traiu a França e ensinou aos portugueses as fragilidades na defesa da ilha. Portugal derrotou os franceses, que fugiram e não mais voltaram. Cointá era agora um herói nacional, porém, mais do que tudo, era um chato. Seguia para Portugal e o navio teve que fazer uma parada na Bahia. Devia ficar lá só por uns dias, mas Cointá, de novo por causa de religião, arrumou briga depois de briga. Xingou o inquisidor, o bispo e acabou preso por seis anos antes de finalmente ir embora. A partir daí acaba a história. Ninguém mais soube nada dele.

As situações teriam que ser melhoradas. Em vez das disputas religiosas, seria ressaltada a chatice dele. O filme se chamaria algo como "O chato francês" ou "O grande chato". Se fosse produzido pela Globo, o francês teria um bordão: "Agora vou cointá uma piada" e seria interpretado pelo Marco Nanini. Franceses e portugueses estranhamente falariam o mesmo dialeto, com esses e erres usados hoje em dia na zona sul do Rio de Janeiro.

Suas piadas e hábitos seriam horríveis. Ele teria a mania de cutucar e de só falar de perto e cuspir ao mesmo tempo. Mastigaria de boca aberta e comeria, preferencialmente, farofa. Se alguém repudiasse os maus hábitos, retrucaria: "Mas é inguinorrante mesmo! Tercêrrro Mundo! Eu sou da Sórbôni (o sotaque carioca, lembrem-se)".

Fosse entre franceses ou portugueses, a cena se repetiria sempre: estão todos reunidos, Cointá entra na taberna e o ambiente fica vazio em instantes. Cointá pediria um prato de tremoços. Comeria um por um, cuspindo a casca no ar. Entre pedaços de tremoços, perguntaria pela milésima vez ao pobre comerciante, que não pôde fugir: "Já disse que eu sou da Sórbôni?"

(Inesperadamente para os autores e produtores, "eu sou da Sórbôni" seria o verdadeiro bordão do filme. Todos sairiam do cinema repetindo-o. Logo estaria nas novelas e nos programas que falam de novelas. Iria parar em um funk carioca e na coreografia de um jogador de futebol).

Corta para o momento simbolista. Seqüências de imagens são exibidas enquanto toca "Aquarela do Brasil" para atestar a influência da chatice de Cointá na afirmação da cultura nacional. O Guarani (o livro e a música). Djavan. Manoel Carlos. Drummond. Caio Blinder. O casal Garotinho. Diogo Mainardi. Jabour. Fernando Sabino. Galvão Bueno. Parreira. Milton Nascimento. Cenas de filmes de Walter Hugo Khouri. Diversas escolas de samba desfilam sem ser possível se identificar qual é. Praticamente toda a produção musical da Bahia aparece na tela, não mais do que um rosto a cada dois segundos diante da imensidão de representantes. A tela escurece e toca Sociedade Alternativa.

Cena final: Jean Cointá mora no lugar onde futuramente existirá a Argélia. Acaba de ser expulso do Marrocos depois de ter sido expulso da Espanha, passando antes por Portugal e França, de onde foi expulso rapidamente só para compensar o longo processo de expulsão pelos ingleses. Aguarda a morte numa cadeira, sozinho em um quintal, com o chapéu, de formato curioso, mal ajeitado na cabeça.

Um médico se aproxima e começa a tirar a sua pressão. Cointá percebe que é o fim, quase não tem mais forças para nada. Então, antes do último suspiro, quando o médico se aproxima para auscultar-lhe o peito, reúne todas as que sobraram e solta um sonoro flato.

# alexandre rodrigues | 28 de janeiro | TrackBack (0)


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