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Knut Hamsun usava um pince-nez

Quem leu Fome, do Knut Hamsun, sabe como é angustiante um personagem cuja única motivação é comer. Henry Miller idolatrava Hamsun, que tem até hoje fama de maldito, o que é esquisito porque o norueguês recebeu um Nobel de literatura. A perspectiva em Fome é ainda mais particular porque o sujeito, além de faminto, delira sobre o artigo fantástico que poderá escrever a qualquer momento para o jornal da cidade e resolver seus problemas alimentares. É sombrio e patético do início ao fim.

Na pesquisa para a dissertação, descobri que a Guerra do Paraguai tem muito a ver com esse livro. É um combate muitas vezes condicionado basicamente pela comida. Os alimentos enviados pelo Brasil não eram suficientes. Para sobreviver, parte do tempo se perdia em expedições atrás do que comer. No final, a população paraguaia está faminta. Mulheres que um dia foram ricas ficavam à beira da estrada oferecendo jóias e os corpos magros aos soldados em troca de alimento. Mas os soldados, se eram menos famintos, também não tinham muito o que comer.

Lembrei também de A cavalaria vermelha e percebi que o combate contra o nosso vizinho é um evento tímido na nossa literatura. Não teve um Os sertões ou A guerra do fim do mundo. Maldita guerra é um ótimo livro de pesquisador, mas faltou um Bábel junto aos soldados, acompanhando desde o início, quando eram otimistas combatentes, até o final quando, brutalizados, tudo o que importa é satisfazer o estômago e esperar o fim da guerra, adiada pelo inimigo que resiste, não se rende e põe a combater as crianças, abatidas pelos brasileiros sem muita pena.

Mas voltando a Fome, Hamsun torna a adversidade um tema único. A fome não é contornável. Define tudo. É um achado o personagem não ser um pobre típico. Não há quase nada no livro que possa ser chamada de denúncia social. O narrador mergulha na autopiedade, mas não esconde que tudo aquilo foi por causa do jogo.

Hamsun apoiou os nazistas que ocuparam a Noruega. Depois da guerra, foi multado e internado em um hospital psiquiátrico. Mais tarde teve alta. Os noruegueses mandavam seus livros de volta pelo correio ou os jogavam no jardim da casa onde morava. Injustiça. Fome é genial. E não consegue fugir... também é.

E, razão verdadeira de tudo o que foi dito até agora, Knut Hamsun usava um pince-nez.

* O título original era "Knut Hamsun usava um monóculo", pois na foto não havia notado o outro aro escondido na sombra do rosto. Marcelo Firpo mostrou-tratar-se de um pince-nez, restabelecendo a verdade sobre os fatos.

# alexandre rodrigues | 29 de janeiro Comentários (10) | TrackBack (0)


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