| ![]()
« |
Home
| »
“Não se pode construir uma casa sem prego e sem tábuas. Se você não quer que uma casa seja construída, esconda os pregos e as tábuas. Se você não quer que uma pessoa seja politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para se preocupar. Dê-lhe um só. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Será melhor ela esquecer que existe uma coisa como a guerra. Se o governo for ineficiente, autoritário e perdulário, é melhor ser tudo isso sem que as pessoas se preocupem com essas coisas. Paz, Montag. Dê às pessoas concursos que elas ganham lembrando-se das letras das canções mais populares, dos nomes das capitais ou de qual estado produz mais petróleo. É melhor entulhá-las de dados não combustíveis, entupi-las com tantas “informações” que elas se sintam enfastiadas, mas muitíssimo “brilhantes”. Aí elas acham que estão pensando, ficam com uma impressão de estar em movimento sem se mexer. E ficarão felizes porque os fatos dessa espécie não se modificam. Não lhes dê coisas escorregadias, como filosofia ou sociologia para embrulhar as coisas. Esse é o caminho da melancolia. Qualquer homem que seja capaz de desmontar uma TV mural e montá-la de novo (e hoje em dia quase todo mundo sabe fazer isso) é mais feliz do que o homem que tenta calcular, medir e equacionar o Universo, que simplesmente não se deixa medir ou equacionar sem que o homem se sinta vil e solitário. Eu sei, eu já tentei. Para o inferno com isso. Então, vamos lá., com clubes e festas, acrobatas e mágicos, saltimbancos, carros a jato, ciclo-helicópteros, sexo e heroína, tudo o que tem a ver com reflexo automático. Se o drama é ruim, se o filme não diz nada, se a peça é vazia, agite-me com sons eletrônicos e bem altos. Vou pensar que estou reagindo à peça, quando se trata apenas de uma reação tátil às vibrações. Mas não ligo. Tudo o que eu quero é uma boa diversão”. Seis anos depois de tê-lo lido pela primeira vez, esse livro ainda espanta pelo modo como Ray Bradbury foi capaz de adivinhar o impacto que a TV teria na sociedade. Farenheit 451, descobre-se em dado momento, não é sobre a queima de livros. É sobre o imbecilizante poder da TV. Os livros são proibidos não porque um governo assim o quer, mas porque ninguém mais precisava deles. Prevê cinco décadas antes aquilo em que se transformaria o telespectador comum: incapaz de ler textos longos ou entender qualquer informação sem o auxílio de figuras explicativas, com uma dificuldade de raciocínio que só não é maior do que a preguiça de pensar. Diga apenas o necessário. Prefira o resumo à obra original. Dê às pessoas Big Brothers e reallity shows, torne-as incapazes de discutir pouco mais do que a atual fofoca ou celebridade do momento. Isso evita a infelicidade, Montag, diria o capitão. O livro é de 1953. # alexandre rodrigues | 8 de junho Comentários (0) | TrackBack (0) |
|