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Obrigado por nos contar a respeito de seu reduzido tamanho

Camélia pede um chá e o doutor Maridinho aparece na sala carregando a bandeja com grande dificuldade. O doutor Maridinho está ficando menor a cada dia, razão pela qual precisa equilibrar a bandeja no alto da cabeça, com grande risco para a xícara e o pires, pois seus braços já são pequenos demais para abarcá-la.

Houve um tempo em que o doutor Maridinho tinha mais de um metro e oitenta, um peito largo, costas cobertas de pêlos e mãos de goleiro. Fora um homenzarrão. Mas alguns anos depois do casamento começou a encolher. O processo foi imperceptível até o dia em que notou, surpreso, que tinha a mesma altura que Camélia. Ela mostrou os pés. Usava sandálias de borracha e não tamancos.

A ciência não conhece fenômeno assim. Sua estatura, depois de uns poucos meses, era quase a metade do tamanho original. Não era um anão, apenas a versão menor e proporcional de si mesmo. Não tinha, a bem da verdade, razão para o que acontecia. Um batalhão de médicos o examinou, sem nenhum resultado. Foi a especialistas e também a um pastor, que disse que a culpa era do demônio em seu corpo. O pastor colocou a palma da mão com força em sua testa e berrou seguidas vezes "Sai, demônio!", mas doutor Maridinho continuou encolhendo.

Tornou-se obcecado por voltar a crescer ou pelo menos – alternativa conhecida nos casos irrecuperáveis de calvície – manter a altura que ainda tem. Teme ser reduzido ao tamanho de uma molécula, com todos indiferentes a sua existência e ao seu destino.

Camélia pede outro chá e o doutor Maridinho, que anda unindo alguns pormenores do seu infortúnio e convencido que há uma relação entre a vida simples e passiva de marido e o encolhimento, responde, simplesmente:

– Não.

– Não?

– Não.

– Vai pegar sim.

Quando o cinzeiro lhe acerta a testa, comprovando a perícia de Camélia, fica dois centímetros menor de uma vez.

# alexandre rodrigues | 23 de junho Comentários (0) | TrackBack (0)