categoria:: cinema
sci-fi gordurama

scannerdark.jpg
cena de A Scanner Darkly, dirigido por Richard Linklater.

Estou bastante apreensivo diante do lançamento cinematográfico de dois grandes clássicos da ficção científica. Em épocas de lapso criativo em que adaptações e cinebiografias estão em voga, War of the Worlds (Guerra dos Mundos) e The Hitchhiker's Guide to the Galaxy (O Guia do Mochileiro das Galáxias) chegam às telas este ano prometendo produções que ao que me parece não irão convencer os mais ávidos apreciadores do gênero.

Quem já leu o Guia dos Mochileiros sabe que a cada capítulo pode-se visualizar as movimentações e nuances de cena com uma clareza que fez o próprio Douglas Adams escrever o roteiro do seu livro. Cena não, sketch seria a palavra mais adequada, afinal o livro traz em si o melhor da comédia inglesa.

Claramente é algo que deveria ter sido filmado pelo Monty Python, o que faz com que o nome de Garth Jennings na direção não seja extamente o nonsense adequada à balbúrdia toda. Pelo menos ele é inglês, e apesar de não ter feito nenhum longa metragem, apresenta um trabalho interessante em clipes e comerciais (vide Cofee and TV, do Blur). Não vou nem entrar na questão do elenco inexpressivo oriundo das comédias românticas e dos seriados de tv, pois é com Guerra dos Mundos que as minhas expectativas caem ainda mais.

A versão Steven Spielberg para o clássico de 1898 de H.G. Wells peca numa questão essencial que é a sua localização temporal. Enquanto o livro faz um relato da invasão marciana de 1895, Spielberg joga a situação para o século XX. Sai da escura Londres retratada nos primeiros contos góticos do século retrasado e chega nos subúrbios americanos como se fosse apenas uma questão de trocar A por B.

Wells, e muito bem as primeiras obras da ficção científica, têm seus pés fincados na revolução industrial. O contexto é a máquina, ou melhor o medo diante da nossa condição de meros humanos. É o que motiva Frankenstein, publicado cinquenta anos antes, e é o que fomenta o medo dos marcianos e suas máquinas de destruição.

Enquanto na sua locação original podemos vislumbrar algo além de uma história de criaturas estranhas, Spielberg transforma a ameaça alienígena em apenas um outro Dia Depois de Amanhã. Ainda espero estar equivocado, mas esse é simplesmente o jeito Hollywood de ser.

Mas então 2005 está perdido para o sci-fi? Aguardo o lançamento de A Scanner Darkly, do Philip K. Dick, com direção de Richard Linklater (Waking Life). Sim, tem o Keanu Reeves fazendo o papel de Bob Arctor, mas pra isso a gente da um desconto. Nada que a Winona Ryder e a rotoscopia não resolvam.