categoria:: jornalismo
das coisas que fizeram 2004
Ficam meus cumprimentos à todos aqueles que fizeram de 2004, dois mil e quatro. Provavelmente passarei a virada de ano fumando charuto e assistindo todos os filmes do Charles Bronson ininterruptamente, mas se alguém tiver alguma idéia melhor (o que sinceramente acho muito difícil), me avise com urgência.

Sem mais, e no melhor clima retrospectiva + final de ano + nenhum saco pra escrever coisas novas, colo abaixo um texto do verão passado. Circulou pelos corredores da FABICO ali pelo dia 15 de Março no Boleta, o verdadeiro boletim fabicano que durou apenas uma edição.

Estudantes fabicanos azucrinam redação de diário praiano
e levam a melhor


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Na tarde do dia 18 de fevereiro, a redação do Diário do Litoral em Itajaí foi prontamente invadida por cinco estudantes de comunicação da UFRGS dispostos a descobrir as origens deste que tornou-se célebre exemplo de jornalismo popular no país. Em férias no litoral catarinense, a trupe foi conferir a lambisgóia do infame Diarinho e resolveu contar tudo ao Boleta.

Circulando apenas pela região do Vale do Itajaí e cercanias, o Diarinho já conquistara leitores gaúchos através de sua página na internet (www.diarinho.com.br), onde os mãos-de-vaca da redação disponibilizam apenas a capa de suas edições diárias. Inconformados com a falta de acesso ao jornalismo verdade, os estudantes saíram em busca de exemplares impressos assim que adentraram o território catarinense. Diante de manchetes como Televisor cai em cima da cabeça e mata bebê e Assaltantes levam 30mil de agência marítima e vão jogar sinuca, inconfundíveis para os transeuntes, viram que precisavam conhecer as pessoas que produziam aquilo.

“Partimos à redação com alguns objetivos em mente: conhecer os editores, virar notícia na próxima edição, conseguir números antigos e uma possível assinatura para o nosso Diretório Acadêmico”, relatou Gustavo Moisés. Também estava entre as prioridades da visita descobrir por que o jornal não divulga os resultados do campeonato gaúcho, "até o estadual amazonense era noticiado", brandia o indignado leitor.

Esperando a pior recepção possível, estavam sendo carinhosamente aguardados pela belíssima Samara Toth Vieira, editora do jornal e funcionária do mesmo desde os seus 16 anos (vejam foto ao lado) Em cerca de uma hora de biriri, tomaram ceva, receberam propostas de emprego e foram apresentados à redação que já escrevia notícia da visita dos ilustres.

Fundado e financiado pelo advogado aposentado Dalmo Vieira, o Diarinho tem atualmente uma tiragem de 6000 exemplares. A publicação é uma que bate de frente com as tentativas de jornalismo popular dos grandes grupos de mídia: “aqui eles não entram”, constata Samara ao observar que a população de Itajaí prefere o Diarinho. A explicação para tal fenômeno que já dura 25 anos é o contato direto com a cultura praiana. As gírias utilizadas fazem parte da linguagem regional (veja quadro), e a abordagem direta faz a notícia parecer o relato de um amigo embriagado

O nome do sujeito que dá o tom aos textos do Diarinho é Juvan, redator chefe. Segundo ele, na hora da revisão umas e outras palavras são sempre substituídas para garantir o impacto de seus já intrigantes temas. Tudo o que é publicado passa pelo seu crivo, e em pouco tempo o antes inocente estagiário já estava escrevendo de forma estoporada e sintonizada com o que o leitor costuma ver no periódico.

Como era de se esperar, o Diarinho encontra também suas muitas desavenças, o que obriga os jornalistas a assinarem pseudônimos como Julieteta Muchibeta, Zé Fodeminha e Pocahontas do Brejo. Entre os indignados está o atual reitor da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí), José Roberto Provesi. Após ampla campanha contra o crescente processo de privatização da universidade, que supostamente seria uma entidade filantrópica, o Diarinho foi proibido de circular no campus e banido das aulas de jornalismo da mesma. Procurado pelo Boleta, Provesi não quis comentar a situação.

No retorno à Porto Alegre, inúmeras edições do Diário do Litoral foram doadas pelo grupo ao Diretório Acadêmico da Comunicação (DACOM), onde já estão disponíveis para consulta. Os estudantes informam também que em breve estará firmado acordo com o Diarinho que garantirá o recebimento de novas edições impressas pelos estudantes fabicanos.

categoria:: foreign affairs
Soraia

O novo não me choca mais. Nada do novo sob o sol!
O que existe é o mesmo ovo de sempre, chocando o mesmo novo.
Muito prazer.

Algo se movimenta no centro do oceano. Os primeiros sinais foram as dezenas de baleias mortas, seguidas de uma núvem de gafanhotos no Egito, e agora o terremoto e consequente deslocamento do eixo do planeta.

Enquanto não finda o mundo por completo, é sempre bom lembrar que TUDO já foi escrito. Sem essa de profecias de Nostradamus, o futuro está previsto é no samba.


Maremoto - Itamar Assumpção

Eu não pretendo mais me entregar
A quem nunca soube mergulhar
Então nem tem mais como velejar
É só maré que existe neste mar

No mais a maresia enjoou
Demais por isso revirou
Restou ressaca e desilusão
Maremoto no coração (Soraia)

Meu mar não está pra peixe
Portanto não da para pescar
Eu peço que você deixe
De fazer tanta onda (no mar)

Meu mar não está pra nada
Também nem para navegar
Eu peço que você saia
E peça pra minha praia (Soraia)

Eu não entendo como fui deixar
Alguém como Soraia me arrastar
Pra lama profundo, pro fundo do mar
Sem dó ela tentou me afogar

Meus ais, a correnteza arrastou
No cais, o meu caiaque não chegou
Sobrou, somente sal e solidão
Maremoto no coração (Soraia)

Meu mar não está pra peixe
Portanto não da para pescar
Eu peço que você deixe
De fazer tanta onda (no mar)

laia lalai lai la
laia lalai lai laia

categoria:: mondo bizarro
preciso parar de frequentar a zona sul

Semana passada o horror por aquelas bandas aconteceu na segunda-feira. Ontem cabeças de cabra voltaram a rolar por algum lugar ao sul.

Não escreverei nada a respeito. Por favor colem os seus relatos no espaço abaixo.

categoria:: mondo bizarro
Tudo começou quando dissemos sim ao negro celso

O carro segue por uma rua deserta, ninguém fora de casa numa madrugada de segunda-feira, muito menos tão longe quanto estávamos. O ativa da esquina marca quatro, mas o frio passa em um borrão, não enxergamos muito além da fabrica ao fundo. Apenas fumaça e micro explosões na noite. As estrelas vieram antes.

De cima do muro da rua posso observar os patos. Eles quase não se mexem, ali, flutuando no ritmo das ondas, esperando o melhor momento para dar o bote.


Disclaimer:

O que se segue é um relato um tanto sem sentido escrito no calor da hipongagem, o que motivou vários comentários de 'não entendi absolutamente nada'. Fico feliz quando isso acontece, mas se alguém realmente quer saber o que rolou naquela noite de segunda-feira, visite o blog do amigo Saulo, ou contente-se com a explicação 'ganhamos vinte reais para figurar de fã na frente de uma festa, gastamos tudo em cerveja e fomos vagar pela zona sul no meio da madrugada para conversas aleatórias sobre o NADA ABSOLUTO'. Esses podem sair do blog assim que verem a illustração bacana que está logo ali abaixo.

Para os demais, peguem uma cadeira e sintam-se em casa. Lembro que o gintônica e a polenta não estão incluídos e serão cobrados à parte.

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NOVE HORAS E TRINTA MINUTOS

Era um trabalho simples, tivesse o sujeito voz para segurar gritos insandecidos durante uma hora. Vinte Reais e mais alguns chopps e estávamos comprados. Pedir autógrafo, tentar tocar no cabelo das mulheres e alternar gritos de Í-DA-LO e ME DÁ TEU TELEFONE, enquanto pequenas máquinas de mão piscavam flashes alternados. Tudo cena. Simplesmente fãs.

As pessoas começavam a chegar no evento com suas mais belas roupas; figuras típicas de uma burguesia interiorana. Sorriam, passavam correndo, ou paravam alimentando uma tensão constrangedora. Afinal estávamos ali provando nossas piores raízes de chinelo, a mochila fabicana ainda nas costas berrando VALE. Não bastasse a hora, negociamos mais vinte minutos por um punhado de risoles, devidamente servidos nas catacumbas adiante.

Três lances de escada chão abaixo e estávamos num ermo desconcertante. "Sente-se que lhe trarei leite, ou quem sabe tâmaras", imaginaria o mais fértil. Que outro motivo para a cama em vinil preto no meio de tudo, pedindo orgias dignas dos mais proibidos folhetins de eras vitorianas?

Comemos os ditos, sorvemos chopp quente e salgado, e recebemos a quantia devida - momento até o qual alguns ainda duvidavam do cumprimento daquele acordo de cavalheiros. Com o dinheiro planejavam entrar no show da Graforréia, porém outros, e nessas eu incluso, juntariam seus oitenta para o que deve ser considerada a noite mais bizarra dos ultimos tempos. Ou simplesmente uma ótima maneira de começar a semana.

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Estranhamente gelada era a única descrição para a cerveja de freezer desligado na Dona Wilma. Podia ser o frio que começavamos a sentir, daqueles que dizem "chega, vá pra casa". Mas a música não era essa, e na cabeça batia Gizele, assim mesmo com Z, ecoando músicas da Madonna em traduções mais que literais. 'A vida é um mistério', gritavamos em ritmo pop, de olho pra que nenhum morador jogasse mais pedras do que as que já estavam aos nossos pés.

Pois a segunda coisa que um grupo de pessoas faz quando tem um punhado de notas sobrando no bolso é procurar maneiras de transcender aquele espírito de segunda-feira. SEGUNDA-feira me salienta o colega ao lado, desconcertado com o estado lastimável da criança.


INTO THE DARKNESS

O tigre começou a latir. Está escuro, e as árvores do bosque fecham o caminho até a casa. Por entre galhos já são estrelas e não núvens e coberturas de prédios que vemos. Brilham forte pra um dia na cidade, se é que ainda estamos nela. Em momentos o nada é absoluto, e a única pista de direção o rufar dos pés no chão de barro que já não parecem cinco, mas talvez quinze, talvez trinta.

A construção copiada dos estilos de Gaudí se sobressai entre a sobriedade daqueles arredores. São dois andares brancos com eventuais detalhes de mosaicos, paredes curvas e o cimento pingado tal qual um guri fazendo um castelo de areia. Terraço, espelhos na sala de dança, e uma piscina térmica em vias de ser talhada na pedra. Imgaino fogo, muito fogo, enquanto o fiel residente apresenta fotos suas, nu, coberto com MAGMA.

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A estupefação no grupo era geral, talvez pela cerveja em demasia ou pelo aroma do cachimbo que repousava no canto da sala, ainda queimando. Sentado no sofá estava eu feito um espectador, vendo aquela pessoa exaltar conquistas e projetos que nunca saberemos ao certo. Um realidade crua, ditada aos brados naquele palco que se tornara o cômodo.

A qualquer momento eu esperava a luz cair, as cortinas se fecharem, e o público se levantar em êxtase para aplaudir o artista com BRAVO. Grita. Pisa no chão e levanta os braços, agonizante. De certa forma estavamos interagindo e modificando a situação de cena, os comentários de um retrucando a vivacidade daquelas afirmações do ator. Mas tudo foi e veio e os panos vermelhos nunca se fecharam.

Foi quando fiquei meio de canto, com um olhar entreaberto e a cabeça levemente inclinada para o lado direito, que percebi a loucura de toda a situação. Louca, porém de uma beleza digna das mais disputadas telas. Pois amante da imagem que sou, não poderia deixar de visualizar tons e meio tons entre momentos e outros de puro nada.

O tigre comçou a latir de novo.


MOMENTO EM QUE O GRUPO DE AMIGOS PERCEBE QUE NADA MAIS FARIA SENTIDO

Os pés roçam o chão batido da rua que leva à praia. Por um instante litoral, mas as luzes azuis e a visão da fábrica ao fundo nos lembram que não estamos nada além do urbano. E é essa admiração crua do industrial que explica qualquer existência. Não buscamos no verde, mas no petróleo que brilha na água nosso único arco-íris.

E de repente essa própria passa a ser questionada. 'Realidade pra quê' gritam quase sóbrios. Porque simplesmente não poderíam ser patos aquelas manchas brancas perto das pedras. O único branco é o das pombas, sentadas imóveis no concreto que beira o cinza.

O carro corre por ruas vazias e minha cabeça encosta exausta sobre o vidro. Tenho fome, mas os arcos do urbano estão fechado. Afinal, é apenas uma segunda-feira.


CENA FINAL, EM QUE OS AMIGOS SACIAM SUA FOME COM POLENTA

Pois por um momento até cogitamos entrar no bingo. Mas àqueles que nos viram, que sirvam as batatas. Resta apenas um agradecimento à todos por surrealismos que certamente entrarão nos anais do bizarro.


A ilustração é da Carson Ellis

categoria:: cibercultura
daqui a pouco eu paro

douwae004.jpg

Quase um mês sem escrever uma única linha e tudo de novo que consigo postar é essa simples ilustração. O dibujo bacana é da japonesa Aya Kato e mais imagens podem ser vistas aqui.

Agora voltando à nossa programação normal, reproduzo abaixo um texto meu que encontrei pairando no grande ÉTER FÍSICO. Na época (leia-se poucos meses atrás) havia começado a escrever sobre blogs pessoais, voyeurismo cibernético y otras milongas más, mas pelo jeito deixei incompleto e fui fazer qualquer coisa de inoportuna. Tudo deveria se desenrolar depois do ponto, mas mal consigo lembrar a índole de minhas considerações.

Esse eu não vou me preocupar em traduzir, pelo menos não por enquanto. Assim não abro precedência pra alguém achar que estou com tempo de sobra pra escrever coisas novas. O final de ano anda me ocupando, tenho trabalhado bastante pra colocar cositas bacanas no ar e ainda quero encontrar tempo pra voltar a fotografar loucamente.

Segue,
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We live in a time where individuality reigns over the collective whole; where personal interests and gains seem to prevail over those of the community. And ever since the rise of the bourgeois in the middle ages, we have become natural voyeurs. We urge knowledge of the other's life, we buy gossip magazines like water while Big Brother showcases on too many TV sets all over the world.

Throughout the last years we have come across the fact that almost 50% of the blogsphere is made out of personal weblogs. These are diaries, stories of one's experiences, inner thoughts and dreams. Things you would usually jot down and keep under your mattress, hidden from all eyes, but ever more become readily available at the click of a button.

New technologies have provided us the tools to broadcast our lives through the net and show our neighbors what happens across thick walls. Let them peep through strategically positioned webcams, some say. But we still maintain control; we still have the power to decide what becomes public and what lays unplugged and offline.

What goes public on a weblog is nevertheless a matter of choice. I have come upon some scholars who claim it is through the technological means that one INFILTRATES the sphere of our private lives and disrupts the barrier between what is public and what is kept inside. But in such cases I believe it misleading to call it infiltration. WE, blog authors, have the power to conduct web surfers through what we expose as being our lives. Even through webcams, focus is on what we decide it to be (which reminds me I should buy a webcam and point it to some mundane thing like a pile of books, keeping it online 24/7).

This will be my diary. This is my life. But hey, I'm not giving away the password. Maybe it's just a way to subvert the possibilities, who knows.

I found an interesting post from a blogger in Florida who recently restricted access to his web diary that states "there comes a point on the 'net where you have to take a step back and decide 'how much is too much' to share with anyone that might happen across it. We've elected to reclaim our personal lives and make them, well, a bit more personal." (http://www.sooner-born.com/)

In the same way we claim the internet as a path to overcome the power and control of mass media, we too have the power to create oneself and ones own will. Identity and subjectiveness become a matter of our own creation. Thus, it seems to me we have to deal with two forms of privacy invasion which are possible through these rapid technological evolutions.

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mas por ora não continua.