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setembro 19, 2006

E Riquelme não voltará a vestir a camisa albiceleste

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Juan Román Riquelme não atuará mais pela seleção argentina. O jogador, que alegou motivos pessoais para sua decisão, sempre foi um grande mistério. É como se ele tivesse a capacidade técnica de um Ronaldinho Gaúcho, mas com a índole de um Fábio Pinto.

Riquelme nasceu em 24 de junho de 1978 e começou sua carreira no Argentinos Juniors, onde teve dificuldades para alcançar a titularidade. Em 1996, o técnico boquense Carlos Bilardo aconselhou o dirigente Mauricio Macri a comprar vários jogadores do Argentinos: Fabricio Coloccini, Pablo Islas, César La Paglia, Carlos Marinelli, Emmanuel Ruiz e Juan Román Riquelme.

A estréia de Riquelme pelo Boca aconteceu em 11 de novembro de 1996, com a vitória xeneize sobre o Unión Santa Fá por 2 a 0, em La Bombonera. Seu primeiro gol aconteceu em 24 de novembro daquele ano, quando marcou o último dos 6 a 0 contra o Huracán.

Em 1997, Riquelme formou uma grande dupla com Pablo Aimar na seleção sub-20 que venceu o Campeonato Sul-Americano no Chile. Em 16 de novembro daquele ano, estreou pelo selecionado principal, em partida realizada justamente na Bombonera. Passarella convocou Riquelme para o último jogo válido pelas eliminatórias da Copa da França.

Em 2000, Riquelme foi um dos principais responsáveis pela terceira conquista do Boca na Libertadores, com excelente participação na decisão contra o Palmeiras. Ainda naquele ano, foi determinante na vitória sobre o Real Madrid por 2 a 1, que deu ao Boca o título de Campeão do Mundo.

No ano seguinte, venceu novamente a Libertadores pelos xeneizes, dessa feita enfrentando os mexicanos do Cruz Azul na final. Antes, na semifinal, passou 90 minutos dançando sobre a bola, garantindo o empate em 2 a 2, de novo com o Palmeiras, desta vez no Parque Antártica, e depois convertendo sua cobrança de pênalti. Mas no Japão o Boca sucumbiu ante o Bayern München.

Devido a uma série de problemas familiares, Riquelme não disputou a Copa da Coréia e do Japão, em 2002. Naquele ano, transferiu-se ao Barcelona, onde teve uma participação muito discreta. Depois, foi para o Villarreal, onde tornou-se grande ídolo. Na última edição da farsa chamada Champions League, levou a equipe treinada por Pellegrini às semifinais.

Mas em nenhum outro lugar se viu o Riquelme que atuava pelo Boca. Quando vestia zul y oro, o jogador chamava a responsabilidade, infernizava os adversários, cobrava e marcava pênaltis decisivos. Nas duas finais de Libertadores, Riquelme converteu seus penais. Contra o Real Madrid foi um dos principais destaques.

Quando despediu-se da Bombonera, Juán Roman Riquelme obviamente levou consigo seu talento, mas deixou para trás a gana, a confiança. Contra o Arsenal, teve nos pés a chance da classificação do Villarreal, mas dessa vez Riquelme estava visivelmente amedrontado, e errou.

E infelizmente assim aconteceu na maioria das vezes em que Riquelme vestiu a camisa albiceleste. Em 2006, enquanto o mundo esperava o estouro de Ronaldinho, eu dividia as atenções entre o brasileiro e o argentino. Achava que o ex-fenômeno acordaria para levar a Argentina rumo ao tricampeonato. Mas não, era uma esperança sem fundamentos, de quem ainda lembrava das suas atuações fabulosas pelo Boca.

É provável que esse comportamento seja próprio da índole de Riquelme. Quando ele jogava numa equipe infantil do bairro de San Jorge, um treinador das categorias de base do Defensores de Bella Vista afirmou que havia visto jogar um garoto sensacional, "después de Maradona es lo mejor que vi". Mas ele queria apenas jogar com seus amigos e sempre se escondia quando os "olheiros" chegavam para apreciar seu talento.

Talvez essa história de infância seja uma pista do que veio a acontecer com Riquelme. Enquanto jogou no Boca, seu time do coração desde os oito anos de idade, estava em paz consigo, tinha fibra e vontade suficiente, era decisivo. Depois disso, caiu numa espécie de sonolência. É claro que ele sempre terá atuações brilhantes, já que sua capacidade técnica é enorme, mas não sei se o veremos sendo decisivo novamente. No Boca, ele batia o pênalti, errava, e fazia no rebote, como ocorreu num clássico contra o River. No Villarreal, ele tinha medo antes de cobrar o penal.

Pelo selecionado, teve algumas apresentações boas, mas na maioria das vezes muito abaixo do que era esperado. Nunca assumiu a responsabilidade, desaparecia nas decisões, a albiceleste lhe pesava demais. Só posso acreditar que isso acontecia por temperamento. Tenho que procurar explicações porque Riquelme foi a maior promessa que surgiu na Argentina em muito tempo, o único que suspeitei que pudesse aproximar-se, ainda que bem de longe, a Maradona. Um daqueles raros jogadores que prometiam conquistar o mundo inteiro.

El pibe alegou que sua mãe estava doente, que não poderia dedicar-se com afinco ao selecionado. Muito justo e compreensível. Se ele afirmasse: "não consigo render pela seleção e quero me afastar" também teria meu repseito e admiração. No entanto, há cinco anos, eu tinha certeza de que em 2006 Riquelme já seria uma lenda da história do futebol.

Mas não tem problema. Paro de beber um pouco e tento preservar os lugares da memória que guardam suas atuações monstruosas.

Saudações,
Douglas Ceconello.


Publicado em setembro 19, 2006 11:36 AM

Comentários

Nao seria essa uma sina dos argentinos? Pense em quantos excelentes jogadores surgiram nos ultimos anos e se tornaram nada alem de bons futebolistas sem realmente atingir o que prometiam? Riquelme, Aimar, Saviola, Veron e Ortega, so' pra citar alguns. A maioria e' absolutamente genial na Argentina e depois nao consegue fazer muito na Europa ou em Mundiais. Ou se metem em clubes menores e assim nao tem muitas oportunidades de brilhar (caso do Batistuta, por exemplo).

Ja' os brasileiros saem daqui e tem carreiras estratosfericas na Europa - talvez porque nao estejamos tao desesperados em achar o "novo Pele'" ou algo que o valha.

Publicado por: francisco mahfuz em setembro 19, 2006 2:07 PM

Cara, realmente isso é estranho. Mesmo que saiam da Argentina atacantes excelentes, como os que tu citou, na maior parte das vezes os defensores têm mais sucesso.

Com Riquelme minha decepção foi ainda maior, pois considero ele um dos maiores talentos que vi jogar e superior a todos que foram para o exterior nos últimos tempos.

Publicado por: Douglas Ceconello em setembro 19, 2006 4:58 PM

Riquelme não é uma decepção!!! Ele joga muito e não é um jogador de ir pra cima e fazer mil gols!!
Ele tem muita habilidade e é muito dificil um jogador do nível dele!
Por isso não deveria sair da Seleção Argentina, o time precisa dele!!! Ele é a cara da Argentina e não pode renunciar!!

Publicado por: Danielle em janeiro 20, 2007 1:16 AM

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