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Breve homenagem a Howard Kettler

O primeiro dia de fevereiro de 2004 foi um dia quente, para o inverno do norte ao menos. Mas também foi um domingo, o que necessariamente transpõe essa pequena narrativa para o próximo dia. O segundo dia de fevereiro de 2004 não foi tão quente, mas justas razões do calendário escolar nos fizeram falar sobre este e não o anterior.

Segunda-feira, nove da manhã, e Howard Kettler, um jovem de 13 anos de idade, entregava seu trabalho final para a aula de história na pacata cidade de Shelby, Carolina do Norte. De pé, diante da professora, balbuciava incompreensível enquanto era reprimido por sua má escolha de fontes. Deve ser porque recém haviam cantado o hino, e mal.

"Uma carta pode ser apenas um mensageiro comum, ou ela pode ser o courier que radia dignidade, prestígio e estabilidade," protestou o aluno àquela magrinha de óculos triangulares que exigia Times New Roman 14. Não era sua a frase, obviamente, mas gostara tanto daquele ímpeto conservador que precisava aproveitar a oportunidade.

"O seu trabalho sobre a guerra de secessão não pode..." Aquela magrinha de óculos triangulares tinha um jeito de pronunciar secessão que fazia seus lábios incharem. Se-ces-são. Isso arruinou qualquer discussão futura sobre o assunto.

Foi correndo pra casa e largou a vida de republicano. Descobriu o modernismo de Frutiger, entrou para o maravilhoso mundo encantado das fontes alongadas e abstraiu as serifas de sua vida. Passou o resto da juventude tentando disseminar a Univers pelos arredores do bairro.

Cartazes vendendo máquinas de lavar e oferecendo serviços de babá, desses afixados com grampeador e picotados na base. Até porque a Courier ficava um lixo a 75º.

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Exercícios literários em nó cego. O pdf completo e mais informações sobre a publicação ali no Overmundo.

por gabriel pillar | 01/09/2006 16:00 | Comentários (0)