DAS BARBÁRIES
Queria entender que impulso é este que nos leva a combinar, chegar sempre atrasado (menos eu, dono da casa, e um constrangido primeiro presente), cada um com cerveja e um pedaço de carne, pratos plásticos obrigatórios pela preguiça, começar um fogo, abaná-lo, colocar carnes, umas depois das outras, esperar assar, comer entre goles de cerveja que já nem dá mais tanto prazer assim e tu não sabe por que continua tomando, para depois ficar farto, querer sentar, acender um cigarro, e continuar rindo, tagarelando, gritando, tendo todas as melhores conclusões, para depois perceber a mesma sensação de esgotamento que tu sente refletida nos teus convidados, que já querem ir embora, uns antes dos outros, outros (estão gostando da conversa) querem ainda ficar e tu olha para as sobras, para os espetos, talheres sujos, para os plásticos, para as carnes frias, e sente um misto de repulsa e veneração, repudias e acreditas naquilo, sabes que continuará acontecendo para todo o sempre até que não aconteça mais porque tu já vai estar morto... ou sem uma churrasqueira.
Foi um churrasco de conclusões. Collor foi sem dúvida nosso melhor presidente. Foi injustiçado. Sofreu um impeachment obtido por pressões espúrias e uma minissérie global. Valia ponto sair às ruas difamar o presidente que abriu a economia e acabou com a reserva de informática. Me sinto muito melhor representado por um playboy que faz cooper e anda de jet-ski do que por um ex-operário mutilado e semi-analfabeto. Descullpa, Collor.
Em outras notícias, soube por alto e num acaso do texto que Mirisola escreveu para a Zero Hora e não foi publicado por este veículo. Dei risada. É um caso típico da inadvertida ignorância sobre o que acontece fora de seu campo de visão. Contrataram um cara que, todos do meio sabem, é um iconoclasta que não seria capaz de perder esta oportunidade de botar no cu dos que tanto odeia. Não sou muito fã da literatura de Mirisola, sequer a conheço, e desprezo seres capazes de citar Cazuza. Eu mesmo comecei a entender Cazuza depois que morei um ano no Rio, mas não digo isso muito alto e, principalmente, não cito o cantor em hipótese alguma. Mas Mirisola citou na primeira frase. E Marião, que publicou o texto, voltou a citar Cazuza ao agredir verbalmente os que agrediram verbalmente seu amigo. Não sou amigo de nenhum dos dois, sequer os conheço, mas achei o texto bom porque concordo com ele. Concordo com a ingenuidade de acusar as grandes corporações. Elas estão lá em cima e são responsáveis por tudo de bom e de ruim que acontece. Como dito ontem no churrasco, é preciso ser louco para olhar tudo que existe e não ficar um pouquinho revoltado. Ninguém está falando de mudar, nem aqui nem no texto do Mirisola, mas simplesmente em usufruir das benesses e falar mal. É a única atitude inteligente. Só porque comemos na mão das grandes corporações não somos também obrigados a falar bem delas.
E o mais perturbador no texto do Mirisola e em sua atitude é pensar que eu provavelmente não seria capaz de fazer a mesma coisa.
A íntegra do texto não está no blog do Marião, pelo menos não encontrei. O texto inteiro pode ser lido aqui (em itálico).
28/08/2006 08:30 | Comentários (3)