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tarja preta

Entrou no quarto e viu o filho comendo naftalina. Sentado, olhando triste para a parede, branca, saboreava aquele mata-traça enquanto cantarolava uma dessas canções estranhas e impronunciáveis de uma banda mais estranha ainda. Parou. Meu deus onde errei - seria a conclusão lógica de qualquer leitor para seu pensamento imediato, mas não conseguia tirar a maldita música da cabeça. Só então depois do refrão para bravar em alto tom (mental ao menos) PUTAQUIOPARIU onde errei?! Pois era ateu, e não acreditava nessas coisas do Mel Gibson.
Havia colocado o guri nos melhores colégios, ensinado a história do MUNDO e presenteado ele com um jogo de lego em TODOS os natais, e ali estava ele a drogar-se com químicos de supermercado. Que fosse ópio e escrevesse seus delírios ! Que fosse cannabis e lutasse pela salvação dos golfinhos ! Que fosse ácido e conhecesse o John Lennon ! Naftalina meu filho! Naftalina!!

Deprimiu, pegou o Musashi e foi ler ao telefone; não sem antes misturar aquela ritalina ao seu copinho de JB. Só um cubo de gelo por favor, e vê se capricha.