Lembro de alguns anos atrás voltar de viagem para reencontrar minha namorada da época absolutamente magra. Ela, que não era exatamente uma atleta mas tampouco uma baleia, tinha se submetido por duas semanas a uma dieta que consistia em comer apenas bergamotas e fumar cigarros.

Funcionou. Ela estava realmente magra e, para minha mais terna lembrança, sorriu adoravelmente para dizer: não há nada que deixe uma mulher mais feliz e satisfeita que se sentir magra – e linda. Poderia até separar em duas frases as palavras magra e linda – mas a tecla de aspas está falhada – porque havia de fato uma pausa entre as duas palavras. Magra. Linda. Se completavam.

Mas errado. Não é isso o que deixa uma mulher mais satisfeita consigo mesma. Este pode ser encarado como um final em si mas é antes um meio. O final mesmo é poder chegar ao paraíso que é dizer: posso ter o homem que quiser. Posso escolher. Não importa que eu jogue fora este porque é descartar este e haverá três esperando. Pode-se estender este prazer aos homens, com a diferença de que não é jamais para o macho uma satisfação o DESCARTE - afinal de contas, significa a renúncia da possibilidade de ter mais uma vagina à sua disposição. Para a mulher o descarte é um prazer, uma afirmação de independência, é o extravasamento de uma série de limitações físicas e de posicionamento social. Te descarto, já que eu POSSO. Tu não vale mais nada para mim, nem para uma fodinha de final de noite. Nisto reside uma limitação do sexo masculino na guerra: esta incapacidade de desconsiderar a mulher inclusive como sexo casual. É injusto, portanto bonito. Como quase tudo que é travestido de comportamento humano sendo apenas e tão somente animalidades.