A Vida Mata a Pau

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IMPOSSÍVEL PENSAR DIFERENTE DURANTE SETEMBRO

Os dois garotos que passavam muito frio na parada de ônibus eram retirantes da cidade de Santiago do Boqueirão. Primos que tinham se agarrado à coragem que só se tem aos 14 anos e vindo na raça pra Capital apenas com a roupa do corpo, que no caso não passava de bermuda e casacos ensopados pela chuva.

Quem contou foi um senhor, que os estava levando pra sua casa, pra abrigar os guris depois de três dias de uma ruim atrás da outra. Disse também que já tinha feito uma dessas, que era de Alegrete e veio parar em Porto Alegre nas mesmas condições, só que em 1960. Onde a cidade era menos hostil, mas o inverno durava mais.

Hoje pela manhã, senta perto de mim no ônibus um senhor de boina. Que começa prontamente a falar muito alto. Importunando a todos e extinguindo minha sonolência, que deve ser sempre respeitada.

Entre as informações que eu não queria ouvir, destacam-se algumas. Ele era do Alegrete, - assim como o senhor que ajudara os meninos de rua - e nunca tinha tirado férias. Hoje, com 72 anos foi ver a serra, onde todas as fábricas estão fechando. Dizia ele ainda que o desfile na cidade dele terá 8 mil cavalos. Já que lá todo mundo tem cavalo. E que “enche de japonês pra filmar tudo”.

Minha irritação era tamanha que quase levantei pra berrar: mas é óbvio, japonês filma qualquer merda! Mas me contive pra ouvir a facada final. “no tempo do Getulio que era bom, não tinha inflação, tu comprava em caderneta pra 20 anos e tinha como pagar”.

Impossível não comparar a postura entre os dois alegretenses. Um cara que sabe onde a coisa aperta e tenta fazer por livre iniciativa a vida dos outro um pouco melhor, na maior humildade, sem condenar a atitude dos guris. Do outro lado um campista recalcado criticando quem toca esse estado pra frente (ou pro lado) que repete a mesma lógica de culpar terceiros por tudo “não ser como antigamente”.

Impossível, próximo ao 20 de setembro, não pegar nojo do gauchismo e da repetição cultural de uma lógica de exclusão e miséria. Vou ver se encontro um dos garotos pra participar do desfile farroupilha. Posso até imaginar eles com a mesma bermuda na chuva, um casaquinho surrado e a camisa “ah, eu sou gaúcho”.

por Menezes - 5 minute não-design de Gabriel - um blog insanus