A Vida Mata a Pau

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Atendi-mentes

Atendimento é o setor da agência de propaganda que pega as peças criadas e apresenta para o cliente. São, muitas vezes, profissionais capazes e competentes, mas quando dão pra ser cabeça dura, é de matar. Para a infelicidade geral, algumas destas pessoas pecam na capacidade de abstração, contestam coisas óbvias e o pior: morrem de medo do cliente. E ai que mora o perigo.

É difícil pra alguém de fora de um setor da criação entender do que estou reclamando, por isso, criei uma alegoria. Vamos voltar no tempo e imaginar como seria se os Beatles estivessem subordinados a um atendimento, alguém para pensar na pertinência do que é composto.

Sei que é distante da minha realidade, não sou um artista, nem mesmo existe o tal cliente personificado, que no caso eram todos os ouvintes, mas posso imaginar que os memorandos seriam mais ou menos assim:


Música: Eight Days a Week

De: Atendimento
Para: Lennon/McCartney

"Pessoal, a semana tem sete dias!!! Tá, eu entendi o que vocês quiseram transmitir, mas acho que o público não vai entender. Vamos substituir o primeiro verso, sei lá. Colocamos uma explicação de cara pra mostrar que a gente sabe que a semana só tem sete dias e que tem uma sacadinha nesse tal oitavo dia. Assim, tira o "oh I Need your love baby" e coloca algo contando essa história, da semana ter tantos dias e tudo mais?"

(Os compositores alteram e mandam a nova versão).

"Ficou muito grande, pessoal. Não vai tocar no rádio. Temos que cortar alguns versos. Vamos tirar as partes que fala de amor e fazer uma música apenas sobre dias da semana, os sete. Ah, mas é pra deixar o refrão apaixonado sem perder o link com o resto."

Comentário: com esse exemplo vemos uma característica marcante do discurso do atendimento, que é usar o plural para dizer o singular. A frase "Vamos fazer significa", na verdade "faz ai, e rápido! O prazo tá estourando".


Música: Yellow Submarine

De: atendimento.
Para: Lennon/McCartney

"Vamos pensar em mais duas opções de cor para o submarino. Amarelo não funciona".

(A mudança de cor é feita).

"Acho que o submarino não vai vingar. O público não tem essa vivência com o submarino, não vão entender o que se passa. Vamos mudar geral. Já orçamos com os ilustradores e eles não fazem submarinos. Tem uns esboços antigos com eles de um filme do Monkees que não saiu, podemos utilizar um jeep que já está ilustrado".

Comentário: aqui é pedida uma alteração apenas para ser devidamente ignorada. Também vemos que a opinião geral de todos os presentes é substituída sem pudor por uma generalização barata, do tipo: ninguém tem vivência com submarino, logo, ninguém vai entender.


Música: Hey Jude

De: Atendimento
Para: Lennon/McCartney

"O cliente não vai gostar desse início. É muito negativo, "take a sad song and make it better" não poderia virar "Take another song.." ou "Take a happy song"? O que acontece é que eles não querem essa coisa pesada, carregada. Seria melhor já começar com o "La La La La". Transferimos os Las lá do final e colocamos no início, depois explica a idéia geral da música".

Comentário: esse problema se repetiria com Let it Be. Sempre lembrando que colocar o La La La na frente foi o artifício "criativo" de Kiko Zambianchi naquela nefasta versão de Hey Jude para a trilha da novela Top model. E ninguém pode ficar feliz com isso.

por Menezes - 5 minute não-design de Gabriel - um blog insanus