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A night in my life


De um lado da rua, eu, com minha mochila, celular, carteira e a filmadora do meu tio. Do outro, uma parada de ônibus ocupada por um jovem senhor com um radinho de pilha e um rapaz de aparência MELIÂNTICA. Comum aos dois lados, a noite: quente, do jeito que só foi ontem, e amedrontadora, do jeito que sempre é depois das 22 horas.
O problema todo, claro, é que eu tinha que ir até essa parada pegar meu ônibus. Ou seja: eu teria que ficar a mercê de um possível meliante e de um tio ouvindo futebol (era isso que ele estava fazendo com seu radinho), que fatalmente me escolheria como alvo dos seus desabafos sobre os óbvios erros de escalação da equipe colorada.
Enquanto o fluxo de automóveis me impedia de cruzar a rua, aproveitei para pensar qual seria minha estratégia de ação. Utilizando de grande destreza mental, BOLEI rapidamente tudo que iria fazer.
Assim que os carros pararam de vir, atravessei com passos decididos, pronto para executar o plano perfeito que tinha em mente.
Era uma idéia bastante simples: assim que chegasse na parada, eu, abdicando da minha apatia social com desconhecidos, puxaria assunto com o tio do radinho, falando sobre futebol e tudo mais. Usando de muita diplomacia, formaria uma ALIANÇA contra o meliante, intimidando-o e fazendo com que desistisse do seu plano.

Atravessei a rua, cheguei na parada e disparei:

- Quanto tá o jogo?
- 1 a 0 pro Inter.

"Preciso manter o contato estabelecido, do contrário, volto a ser vulnerável. 1 contra 1 sou mais a faca do meliante".

- Ah, mas então estamos bem!
- Nada, perdendo gol sem parar!
- Pois é, o Inter tá assim agora, sempre perdendo gols.

Tio senta no cordão da calçada e diz:

- E o time deles está com oito em campo.

Eu, claro, sento também, ao lado dele - e a 30 cm dos carros que passam pela Silva Só em alta velocidade.

"Deus, que constrangedor. Acho que vou entregar a filmadora ao assaltante e terminar logo com isso".

Respiro fundo:

- Nossa! Oito? Mas expulsaram o goleiro?
- Sim. Bom goleiro, salvou vários gols.
- Bom, vamos torcer para que o reserva não seja tão bom, hehe.

"Eu quero morrer".

- Ah, sim, hehe.

Neste momento surge um outro homem na parada. Ele se aproxima do meliante potencial e pergunta alguma coisa sobre itinerários de ônibus. E, para minha surpresa, o rapaz responde COM A VOZ MAIS FINA DO UNIVERSO.

"Não creio, temi ser assaltado por ele? Por um guri que deve ter cordas de violino na garganta?"

Pênalti pro Inter. Gol.

- Pronto, despachamos eles - finaliza o tio.

O ônibus chega. Eu subo, com filmadora, celular, mochila e carteira. A dignidade eu deixei lá, com o guri de voz fina.

(A aventura não acaba aqui. Mal sabia eu a LIÇÃO de socialização com desconhecidos que eu teria no ônibus. Continua)