diversão sem fim
Para passar um pente-fino técnico no livro que estou acabando de escrever, precisarei de:

1) Um mecânico ou, no mínimo, alguém que monte e desmonte carros por hobby
2) Um exímio jogador de sinuca, que preferencialmente pratique truques
3) Um funcionário de uma serraria (madeireira também tá valendo)
4) Um graduado em direito que possa discorrer sobre "ações de desapropriação"
5) Alguém que saque de iatismo

Já consegui alguns desses, portanto isso não é um anúncio de urgência, mas só algo para dizer "veja como algo divertido me espera".

postado por Carol Bensimon as 08:59 | pitacos (63) | trackBack (0)

slumdog millionaire
Não acompanhei nada do que se falou sobre Slumdog Millionaire (no Brasil, Quem ser ser um milionário?), nem amigos, nem imprensa. Ontem, assisti. Há um monte de coisinhas irritantes que parece que vão aumentando ao longo do filme, até uma apoteose de breguice sem limite que é o final. Sinceramente, não gosto de miséria videoclíptica, pois sempre tenho a sensação de que esse tratamento faz com que ela, a miséria, pareça um mero adereço de um filme de ação em que a diferença entre bons e maus é tão clara que chega a constranger-me. Pior do que isso é fazer com que todos sejam bandidos loucos por dinheiro, ou simplesmente sádicos, o tempo inteiro, enquanto um único personagem guarda em si o conjunto completo de purezas, valores e boas intenções.
Como se isso não bastasse, aquele amor impossível, e os tantos desencontros e sobretudo ENCONTROS (na Índia, veja só) não colou. E explicar tudo por "é o destino" é um jeito bonito de dizer "ignorei qualquer noção de verossimilhança".
Na minha opinião, só leva estatuetas nas categorias técnicas.

postado por Carol Bensimon as 08:22 | pitacos (6) | trackBack (0)

romance policial
Ainda não entendi por que romance policial é um sucesso editorial retumbante na França, mas é verdade que não me dediquei muito a descobrir as razões. Semana passada, no entanto, fui num encontro de bookcrossers conversar com um fotógrafo (com o qual faria uma matéria). Bookcrossers são pessoas que deixam livros etiquetados por aí (bancos de praça, enfim, qualquer lugar público), etiquetas essas que tem instruções do tipo Se você achou esse livro, entre no site tal, diga onde achou, leia, passe adiante e etc (disseram que só uns 5% das pessoas que acham os livros efetivamente topam participar do esquema e registram o "achado" no site). Bem, eu estava nesse fundo de café, observando os bookcrossers comerem grandes taças de sorvete, e resolvi perguntar para o senhor gordinho de gravata dourada o porquê de os franceses serem tão apaixonados por livros policiais. Mas o fato é que, para eles, o apelo dos livros policiais é tão natural, que eles têm dificuldade em refletir sobre isso. No fim, a única hipótese que ele conseguiu levantar é que franceses gostam de coisas lógicas.
Vou dizer que até achei convincente. Mas não deixo de pensar que, talvez somado a esse, há outra fator que favorece o gênero policial: violência na França aparece raramente em manchete de jornal (sendo um pouco sarcástica, dá pra dizer que jornal televisivo aqui é um tédio), e então sobra pra literatura.
No fundo, todo mundo quer ver um pouco de sangue. Nem que seja de mentirinha.

postado por Carol Bensimon as 15:27 | pitacos (3) | trackBack (0)

reforma ortográfica 2
Tomando chá com uma puta vista de bairro burguês e da Torre Eiffel, na cafeteria da Rádio França Internacional (a.k.a Torre de Babel insana), uma jornalista de conversa agradável me disse que a reforma ortográfica toca 0,5% do português brasileiro. Em Portugal, são 3% de mudanças sobretudo nas letras mudas que eles deverão perder (como o c de acção).
0,5% é titica de galinha, convenhamos, e pouco justifica o surto coletivo, ou a desconfiança, cada vez mais frequente, de que tudo que se escreve está errado de acordo com a nova norma. Tenho certeza que você, leitor, viu nos últimos tempos algumas pessoas agindo assim, como se de repente tivesse perdido toda a aptidão para a linguagem escrita.
Observação não menos relevante: a palavra mais bizarra da nova grafia que já vi até agora é certamente micro-ondas. E ela parece entrar em contradição com uma regra do hífen que diz que não se usa mais tal sinal gráica nas palavras que perderam a "noção de composição", tais como para-quedas (agora paraquedas). Micro-ondas, por outro lado, não entra nessa categoria, já que era uma palavra só. Mas agora, com hífen, revela toda a sua origem ficção científica. Eu tenho muito mais medo das radiações desde que micro-ondas é com hífen. Sério.

postado por Carol Bensimon as 12:21 | pitacos (8) | trackBack (0)

reforma ortográfica
Confesso que também reclamei dela no início, a trema era bonitinha, eu gostava do acento diferencial em "pára", e as "ideias" não parecem tão geniais sem acento. Mas precisamos nos conformar, como se conformaram aqueles que viram a pharmácia trocar o ph por f.
Mesmo fisicamente distante do Brasil, sou testemunha virtual de algo pra lá de curioso: meus amigos e conhecidos que fazem parte da "elite cultural" do país não param de ralhar, de amaldiçoar a reforma, e, em casos mais radicais, mas não raros, o sujeito simplesmente diz que se negará a deixar de lado a velha ortografia para adotar a nova. O que enxergo aí é bem claro: quem domina o código linguístico não quer ver o seu poder enfraquecido frente a mudanças que ele ainda não domina. Além disso, a maioria não quer se esforçar nem um pouco para manter a posição que conquistou.
Hoje acordei marxista.

postado por Carol Bensimon as 07:30 | pitacos (24) | trackBack (0)

cotidianamente
A diversão agora é ficar adicionando lugares no software de previsão do tempo do ipod touch. Coisas tão opostas como Manaus e Yellowknife (no Canadá. Aquela última parada da série Caminhoneiros no Gelo). Quer dizer, é preciso saber que há outro tipo de clima e situação, que não seja essa, pegajosa, cinza e imutável. Para melhor ou para pior. Será que é assim que alguém vira homem/mulher do tempo? Algo como Poxa, desde criancinha, eu era fascinado por previsão. Todo mundo que ganhou, e adorou ter ganhado, um daqueles galos que supostamente mudavam de cor em função do tempo é um homem/mulher do tempo em potencial? Sei lá.
Mas eu escrevo. E o Pó de Parede apareceu ontem, na Zero Hora, como um dos 10 melhores livros nacionais do ano. Depois da ressaca açoriana na segunda, foi recompensador. De qualquer maneira, não devo usar esse blog (ou não muito) para auto-promoção. Para isso existe o carolbensimon.com, que eu andei atualizando com algumas novas resenhas.
Ontem vi um filme incrível, J'ai toujours rêvé d'être un gangster (Eu sempre sonhei em ser um gângster). O troço mais original que eu já vi em muito tempo. Humano e engraçado. Trilha impecável (por que eu ainda não conhecia esse Kris Kristofferson?). E a fotografia é de cair o queixo e os butiás do bolso. Separei um trailer aqui. Infelizmente, em tela assim pequena e em baixa definição, ele fica bem prejudicado, mas já dá pra sacar um pouco do clima. Ah, e infelizmente II, não consegui encontrar um trailer com legendas em inglês.




postado por Carol Bensimon as 07:00 | pitacos (3) | trackBack (0)

céline
Se é necessário uma prova de que não dá pra confundir vida de autor, caráter de autor, ou o diabo a quatro, com obra de autor, essa prova é Céline. O sujeito foi um anti-semita escroto, e seus panfletos disseminando idéias preconceituosas acabaram sendo responsáveis por um certo esquecimento do autor durante longo período. Ler Céline era como concordar com essas idéias.
Agora, entre os escritores franceses do século XX, ele é o mais traduzido. Só perde para Proust.
Acabo de ler Céline. Voyage au bout de la nuit (Viagem ao fim da noite, Companhia das Letras, esgotado). Maior livro da literatura francesa disparado (tá bom, empatado com L'Étranger, do Camus). Como parte, em certo sentido, da turminha existencialista, o sofrimento é atroz - e compartilhado pelo leitor. Mas, diferente de um Sartre da vida, Céline realmente não está a fim de fazer tese travestida de romance: há idéia E forma. Passagens sublimes. Descrições de rasgar alma. ;) Recomendo fortemente. Mas não toque nele num sábado à noite. Sábado à noite é dia de ver musicais franceses tomando sangria.

postado por Carol Bensimon as 11:00 | pitacos (7) | trackBack (0)

chinese democracy
Sou fã do Guns. Fã tardia, coisa menos hype do mundo, assim, e fã de um jeito meio enviesado. Me explico: tem música que não aguento, e cd que acho fraco. The Spaghetti Incident, por exemplo, me diz pouco. Tiro dali umas quatro.
Mas eu digo "fã" porque poucas músicas me tocam tanto quanto algumas do Guns. Como se elas representassem em melodia toda a minha existência até agora. Não, não tem nada a ver com letra. É trilha sonora pra vida, apenas. Tá, pode soar bem ridículo, mas não vou fingir que não é exatamente esse o sentimento que me dão.
(tem gente que entrava no meu carro e tirava sarro. Não citarei nomes. Ei, vocês sabem)
Fiz minhas primeiras audições do Chinese Democracy essa semana. É verdade que umas tantas eu já tinha ouvido. Better era a que eu mais conhecia, e talvez por isso seja uma das minhas favoritas. Gosto também da Chinese Democracy, I.R.S, e Madagascar. Desapontei-me com algumas (Scraped, Shackler's Revenge, Sorry), e outras ainda acho bem estranhas, como If the World. E a voz do Axl, bem, já não é mais a mesma, e também sinto falta daquela outra, a bem grave de músicas como Don't you Cry. Além de eu achar que o estilo do canto às vezes tende para o metal. Na música final, This I Love, por exemplo, rola um espírito André Matos descarado (pelos 30 segundos). De qualquer maneira, me pegou e, andando hoje num fim de tarde com ela em volume alto nos ouvidos, não pude deixar de sentir os arrepios Guns n' Roses de sempre.

(mas estou ansiosa para ouvir outras opiniões)

postado por Carol Bensimon as 15:55 | pitacos (10) | trackBack (0)

outro blog.
Ganhei outro blog hoje, só pra falar de Paris. Fica dentro do clicRBS, e chama-se Paris 75004 (referência ao bairro onde eu moro, o que será devidamente explicado em algum post). Prometo comentários mordazes e fotos com cuias.

postado por Carol Bensimon as 17:46 | pitacos (5) | trackBack (0)

outra casa.
Tá, tenho outra pra contar envolvendo casas. E essa não fui eu quem procurou o insólito (como no caso da carta à casa-caixa, aqui nesse post e mais aqui): o insólito me procurou.
Recebi um mail de um sujeito que dizia ter ficado sabendo que eu escrevera um livro sobre a casa onde ele morara na infância. Com direito a memórias de períodos longínqüos. Com direito a link no Google Maps apontando a casa. Profundamente emocionada (esses contatos me pegam n'alma), vi que havia um duplo equívoco, na verdade. O primeiro: a "casa salmão" não é do Pó de Parede, mas do livro ainda não publicado. O segundo: a dele, embora salmão, ou rosa, diriam alguns (como eu), não era propriamente a casa salmão do Sinuca, posto que conheço, de longa data e muito deliciosas lembranças, a família-salmão.
Mas, peraí, esse sujeito, claramente emocionado me contando suas histórias de criança, o vento batendo nas persianas de madeira do sótão, e a família depois quebrada tendo que vender o lugar que haviam construído, estava falando de outra casa de peso do meu imaginário: a casa rosa da Prainha/Praia do Cachimbo. A casa rosa da Vila Conceição. Tu, portoalegrense, deve saber do que estou falando. A casa de "E o vento levou", como lembro da minha tia dizer quando eu era ainda muito pequena. E depois, e depois, quantas vezes lá de noite olhando o rio, sem muita noção do perigo, quantas vezes tomando chimarrão e vendo macumba e ouvindo cantos? E vendo a fumaça subir lá em Guaíba, que de longe é bem bonito. Quantas vezes e com tantas pessoas! Algo como o melhor que eu tirei de cada uma delas, e o que cada uma delas tirou de mim.

postado por Carol Bensimon as 17:11 | pitacos (11) | trackBack (0)

arquivos

insanus




Kongo.gif