home. arquivos: setembro07. agosto07. julho07. junho07. maio07. abril07. março07. fevereiro07. janeiro07. dezembro06. novembro06. outubro06. setembro06. agosto06. julho06. junho06. maio06. abril06. março06. fevereiro06. janeiro06. dezembro05. novembro05. outubro05. setembro05. agosto05. julho05. junho05. maio05. abril05. março05. fevereiro05. janeiro05. dezembro04. novembro04. outubro04. setembro04. agosto04. julho04. junho04. maio04. abril04. março04. fevereiro04. janeiro04. dezembro03.

Insanus
alexandre
bensimon
bituca
bruno
cardoso
carol
cisco
cove
daniel
firpo
gabriel
hermano
menezes
nova corja
parada
träsel
vanessa

Blogroll
3 vozes
alliatti
anna martha
antenor
bibs
bulcão
carine
conjunto comercial
dani
diego
g7+henrique
iuri
jousi
lima
lu
madureiras
marcia
mirella
nego
patrício
rodrigo
soares silva
solon
tams

Histórias constrangedoras da minha vida II


Episódio de hoje: o dia em que subi na calçada a 12km/h e atropelei uma menina.

Para entender um pouco como fui capaz de fazer o citado acima, é necessário contar uma outra história:

Quando eu fiz dezoito anos, começaram as pressões familiares para que eu tirasse minha habilitação de motorista. Meu interesse por carros ou qualquer coisa que tivesse relação com eles – o que incluía, naturalmente, dirigi-los – era mais que nulo, era negativo. A famosa relação que habitantes de cidades do interior têm com seus automóveis (e pior: com os automóveis dos outros) tinha provocado em mim uma imensa rejeição a carros, motos, picapes, enfim, ao trânsito.
Porém, eu era um homenzinho, era importante saber dirigir. Carteira de motorista é, afinal, uma grande ferramenta. E eu sabia, era inevitável, mais cedo ou mais tarde eu teria de fazê-lo. “Todos os homens adultos sabem dirigir”, eu pensava. E eu era um homem adulto, ainda que a pouca presença de pêlos ou a cara de guri denunciassem o contrário.
Cedi. Resolvi me habilitar como motorista com o pessoal da República Federativa do Brasil.
Meu avô sugeriu, então, que eu tomasse com ele algumas aulas de direção antes de entrar na auto-escola. Pra chegar lá com alguma noção, essas coisas.

E aqui convém eu contar uma história dentro da história, para que vocês entendam o que a sugestão do meu vô significava:

Seu Moisés, já citado aqui anteriormente, é como se chama meu querido avô paterno. Militar aposentado, foi instrutor de direção durante a II GM, e acho que depois disso também. Com ele, muitos jovens garotos aprenderam a manobrar aqueles jipes verdes. Ou seja, era lógico e natural que ele ensinasse a mim também.
Ocorre que meu avô é famoso na família pelo seu modo peculiar de fazer as coisas. E quando eu digo “as coisas” é pra ser bem genérico mesmo. Para tudo, rigorosamente tudo, ele tem um método próprio, ou algum segredo. Exemplo ilustrativo: para tornar, na concepção dele, sucos e refrigerantes mais saborosos, meu avô adiciona algumas gotas de vinagre. Nas palavras dele, isso é “COMPOR o suco”. E bebe satisfeito, sorrindo e tentando nos convencer de que é uma boa idéia.
É claro que para dirigir não é diferente. Seu Moisés também tem técnicas pouco ortodoxas, como “dar uma beliscadinha no freio” em todas as esquinas, mesmo quando está na preferencial, ou realizar mudanças de marcha através de um conceito complexo que só mesmo ele consegue entender e aplicar.

Mas não, não estou tentando jogar para ele a culpa do acontecido. Estou apenas tentando mostrar, o mais realisticamente possível, o que se passava na minha mente no fatídico dia.
Eu estava aprendendo a dirigir, sem muito entusiasmo, e ainda tinha que filtrar os conhecimentos que meu avô me passava. Era bastante desgaste para mim, acreditem.

Pois com tudo isso na cabeça – acelera, freia, dobra, olha o sinal, dá sinal, olha a placa, vem carro, não vem, será que o que ele disse agora vale?, será que não vale?, lembro de alguém mais fazer isso ao dirigir?, etc. – eu ia conduzindo o Gol CL prata por calmas ruas de Passo Fundo.
Até que estava indo tudo bem, eu já tinha tido algumas aulas e já sacava um pouco da coisa. Poucos erros, nada grave.
Até que eu chego numa esquina, preferencial de outrem, e paro. Olho para os dois lados: nada. Arranco, com a intenção de virar à direita.
Quando estou na metade da execução da curva, avisto uma F 1000, que seguia, a uma velocidade razoável, pela rua em que eu estava entrando, no sentido direita-esquerda.
Eu estava entrando numa rua de mão dupla, teria dado perfeitamente pra fazer a curva direitinho, fechadinha e bonita, enquanto a caminhonete seguiria lá o caminho dela.
Entretanto, assim que notei que, ao contrário do que tinha percebido ao olhar para os lados, tinha um carro – aliás, mais que isso, uma caminhonete – vindo na minha direção, me apavorei todo.
Assustado, não desfiz a curva, ou seja, virei, virei, virei, até chegar ao cordão da calçada. Para meu azar, era uma garagem. Tenho certeza que, na velocidade ridícula que eu vinha, um cordão de calçada teria me parado. Mas na falta dele, segui virando, virando, e subi na calçada.
É claro que, a esta altura, meu avô já dizia “freia! Freia!”. E é claro que eu tentei fazê-lo. O problema é que a adrenalina que corria no meu sangue escondeu o maldito pedal do meio. Procurei, procurei; nada.
Ah, pobre menina. Devia ter os seus 17 anos. Caminhava tranqüilamente de costas para o corrido, sem nada perceber. Do nada, um carro cutuca suas pernas, numa velocidade pífia, capaz apenas de jogá-la ao chão, de joelhos, como de fato ocorreu.
Após BOLICHAR a menina, o carro bateu na grade de ferro da garagem, e finalmente parou.
Rapidamente, desci do carro para acudir a garota. Perguntei se ela estava bem, se queria ir ao hospital.

- Como é que tu conseguiu fazer isso? – Ela respondeu.
- Eu virei, o carro veio, dobrei muito, desculpa, desculpa – respondi.

Ela não estava machucada, mas sim braba, muito braba, e com os joelhos um pouco arranhados.
Um jovem que estava por ali e tinha visto tudo também apareceu. Educado, também ofereceu ajuda, mas não conseguiu segurar o riso frente a tudo que acabara de presenciar.
Não tenho bem certeza, mas acho que também tinha uns garotos de bicicleta por ali, tornando tudo ainda mais constrangedor.
Em pouco tempo, todos perceberam que não era nada demais, e começaram a se dissipar. Primeiro os garotos de bicicleta, depois o jovem solícito, a garota braba, e finalmente nós, agora com meu vô ao volante.
Antes de sair, vi que o portão tinha amassado um pouco com a batida. Não tive coragem de avisar meu vô, que certamente não viu. Eu não tinha coragem nem de admitir a mim mesmo o que tinha acontecido.
Combinamos que aquilo ficaria entre nós. E ficou. Em pouco tempo esqueci, e hoje dirijo sem problemas, apesar de não me considerar exímio motorista, e de sequer ter essa ambição.
Depois desse dia, Seu Moisés passou a andar comigo sempre segurando o freio de mão, para o caso de o freio sumir de novo dos meus pés. Esse hábito durou até pouco tempo atrás. Pode parecer desconfiança, mas prefiro acreditar que era apenas mais um dos hábitos estranhos que ele gosta de cultivar.