Favela no poder

"Na primeira reforma ministerial, que aniversaria em dias, o presidente criou num único ato 1.322 DAS [ocupantes de cargos de confiança na administração pública], sem contar as novas gratificações para assessores. Em apenas sete meses, 1.122 haviam sido nomeados.
No dobro do tempo, o Primeiro Emprego empregou, com carteira assinada e mediante incentivo aos empresários, 2.583 jovens entre 16 e 24 anos, faixa na qual o desemprego é mais grave.

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Folha de São Paulo

São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2005

MARTA SALOMON

Entre duas reformas

BRASÍLIA - Filho de funcionários públicos, um colega pensou por muito tempo que DAS fosse sinônimo de felicidade doméstica. No governo Lula, também é medida de satisfação.
Essa é a sigla que nomeia os ocupantes de cargos de confiança na administração pública. Aqueles que, dispensados de concurso para entrar no governo, têm até R$ 7.575 no contracheque, dependendo do grau de confiança do cargo, de um a seis.
Na primeira reforma ministerial, que aniversaria em dias, o presidente criou num único ato 1.322 DAS, sem contar as novas gratificações para assessores. Em apenas sete meses, 1.122 haviam sido nomeados.
No dobro do tempo, o Primeiro Emprego empregou, com carteira assinada e mediante incentivo aos empresários, 2.583 jovens entre 16 e 24 anos, faixa na qual o desemprego é mais grave.
Enquanto o número de ocupantes de cargos de confiança batia recorde, segundo o mais recente Boletim de Pessoal, uma das prioridades do governo alcançava 1% da meta. Mas o desempenho chocante do Primeiro Emprego não incomodou o governo. Para o Ministério do Trabalho, o programa (alguns cargos públicos a mais) está finalmente pronto para deslanchar.
No caso dos cargos de confiança, a ocupação superou os planos iniciais, e o governo abriu mão de uma "reserva técnica": todos os cargos foram distribuídos na Esplanada. Talvez os novos ministros de Lula não encontrem nenhum vago.
Se a máquina pública cresceu, como desejava Lula, não há sinais de que ela tenha passado a funcionar melhor às vésperas de sua segunda reforma ministerial.
Para não ficar só no Primeiro Emprego, mais de dois de cada dez brasileiros continuam sem esgoto em casa, enquanto as regras para investimentos em saneamento -outra propalada prioridade do governo- seguem de adiamento em adiamento.
Eficiência não foi até aqui tão relevante, assim como não será o critério mais importante na nova reforma.

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