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Viagem gastronômica a Garopaba

ATENÇÃO: Este blog se mudou. O novo endereço é www.trasel.com.br/garfada

Passei a virada do ano e a semana subseqüente em Garopaba, praia de Santa Catarina onde minha família tem casa há uns 20 anos. Pela primeira vez, freqüentei os restaurantes locais -- em geral, comia sempre em casa. Constatei que, como em qualquer cidade turística, há várias armadilhas para se evitar. Por outro lado, houve boas surpresas. A seguir, alguns comentários mais específicos.

Enseada de Barcos -- Abriu neste Natal e é provavelmente o melhor restaurante da cidade. Devo avisar aos leitores que um amigo gerencia a cozinha, mas garanto que a amizade não influiu na avaliação. Na verdade, quando entrei na casa fui informado erroneamente que ele não trabalhava lá, mas decidi ficar mesmo assim. Foi uma sorte. Primeiro, porque a comida é muito boa. Segundo, porque era mesmo o restaurante de meu amigo. Serve frutos do mar em porções ou em pratos como risotos e moquecas. Há também anchovas e tainhas assadas em forno a lenha. Pedimos um combinado, que vem com duas ostras, quatro mariscos, dois filés de salmão ou linguado, camarão ao bafo ou alho e óleo e lula à dorê. Além disso, acompanham uma salada verde, arroz e batatas sautée. Tudo muito bom, exceto pelo linguado um pouco sem sal. Os camarões eram enormes e, ao contrário de outros estabelecimentos, não era apenas o sabor do alho que se podia sentir. Conforme o Alexandre, que gerencia a cozinha, a diferença é que eles organizaram um esquema para buscar os peixes e frutos do mar o mais rápido possível, de modo que não seja preciso congelar. O ambiente é bom e a presença de Tabasco e azeite extravirgem no galheteiro denotam cuidado com os ingredientes. Com bebidas, saiu R$ 77 para duas pessoas, mas as porções são grandes e serviriam três pessoas sem muita fome.

Embarcação -- Um dos mais antigos restaurantes ainda em operação na cidade, e por bons motivos. Serve peixes e frutos do mar honestos a preços acessíveis, bem na beira da praia. Uma porção para duas pessoas da maioria dos pratos varia de R$ 20 a R$ 30. A porção de lula à milanesa sai por R$ 11. Já a porção de camarão à milanesa não vale muito a pena, porque é mínima e custa R$ 20. A "seqüência de camarão" tampouco, porque cobram R$ 80, contra R$ 64 do combinado no Enseada de Barcos. Todos os pratos são no mínimo razoáveis. Os clássicos, como o peixe ao molho de camarão, são bastante indicados. No dia que fomos, não havia garoupa na casa, mas esse é um peixe bem raro de se encontrar em restaurantes e peixarias ultimamente. A cerveja é R$ 3,50, perfeito para ficar nas mesas da varanda bebendo e olhando as argentinas tostarem ao sol.

Panquecas do Alemão -- A comida não é ruim, mas não vale a pena legitimar esse local com uma visita. Parece que os garçons e cozinheiros são estagiários do curso de gastronomia da Unisinos, então o atendimento não chega a ser tão impecável quanto você gostaria, mesmo dando-se os descontos habituais para a lerdeza litorânea. Fora isso, os aparelhos de som passam o tempo todo tronando com aqueles malditos hits de verão. É horrivelmente caro: uma panqueca com iscas de filé, queijo e ervas custa R$ 18. Mata bem a fome de uma pessoa, mas você fica pensando que por pouco dinheiro a mais, comeria um belo prato de peixe. Além disso, o alho-poró que prometiam no cardápio não fez aparição alguma no recheio. Dividimos essa panqueca em dois e depois pedimos mais uma de sobremesa, com recheio de chocolate e sorvete (R$ 19). Desafio qualquer pessoa a comer uma panqueca de chocolate inteira. Mesmo a metade parece demais, devem colocar umas duas ou três barras lá dentro. Outro grave problema é não servirem nenhuma cerveja extra, apenas Skol e Kaiser. Finalmente, eles parecem estar confusos sobre o conceito de panqueca. Aquilo lá me parece mais um crepe, pois é composto por uma massa redonda fina enrolada em torno do recheio. Panquecas, conforme a Larousse Gastronomique, são um pouco mais espessas e em geral servidas abertas. OK, tudo bem, reclamar disso já é rabugice minha.

Algarve -- Não vá a este restaurante. Fica no calçadão à beira da praia, mas evite-o a todo custo. Pedimos peixe ao molho de camarão (R$ 20) e anchova grelhada (R$ 25), ambos para duas pessoas. O peixe estava no máximo decente, enquanto a anchova foi completamente carbonizada. As batatas fritas têm gosto de gordura velha. Se você pega uma mesa na rua, gatos vadios ficam rondando e pedindo comida. E você é ignorado pelos garçons desatentos.

Todos os restaurantes recomendados ficam na rua principal de Garopaba, a Pref. João Orestes de Araújo. Se não encontrar, pergunte. Faltou ainda provar a comida do Bistrô do Cais, localizado na praça da Igreja Matriz, no centro antigo. O cardápio, oferecendo risoto de polvo com raspas de limão siciliano, prometia. Uma amiga diz que levou duas horas para ser atendida num dia cheio, mas que a comida é muito boa.

Marcelo Träsel | 11.01.2007, 11:34 | Comentários (13)