Espumantes brasileiros e champanhe

Com família visitando e grandes passeios por uma São Paulo quase deserta atrasei essa mini-resenha sobre alguns espumantes que tinha pensado em publicar ainda antes do Reveillon e o Träsel publicou a dele antes. Aqui vai:

Sempre há muitas dúvidas sobre o assunto e muito pouca informação que faça algum sentido, então a idéia aqui é concatenar alguns dados importantes sobre como escolher o espumante que se sorverá na madrugada do primeiro do ano. Ah, sim, bebedores de cerveja pulem para o post três ou quatro posições abaixo.


Seco, meio-seco ou doce?

Sim, você já sabe a resposta: seco (brut), claro, mas não custa insistir. Espumante doce ou meio-doce é tão apropriado quanto salgar o churrasco de domingo com açúcar de confeiteiro. Depois dos 12 anos de idade beber espumante doce ou meio-doce não tem desculpa.

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Rico Ferrari | 28.12.2006, 0:06 | Comentários (26)

Dica para o Réveillon

Esqueça os Freixenets da vida. Depois da França, o Rio Grande do Sul produz os melhores espumantes do mundo. Alguns, inclusive, têm vencido degustações cegas na própria França. Então, procure uma loja especializada em vinhos e compre uma boa garrafa de Cave Geisse. É produzido pela vinícola Amadeu, que tem também o melhor cabernet sauvignon da Serra. Ou então vá ao supermercado e dê uma peruada nas prateleiras. Don Giovani, Georges Aubert, Peterlongo, Aurora, Salton, Chandon, Marson, Valduga, Miolo: todos têm notas razoáveis no guia de vinhos da Larousse. E saem mais barato que os importados.

Marcelo Träsel | 27.12.2006, 10:40 | Comentários (2)

Mais dois blogs interessantes

A profusão de blogs gastronômicos é impressionante, mas não surpreendente. Afinal, a única coisa mais importantes na vida do que a alimentação é a respiração. A Ingrid enviou um link para o Twin Cuisine, feito por duas irmãs gêmeas cozinheiras aqui de Porto Alegre. Outro blog é o What Geeks Eat texto e fotos impecáveis, além de receitas explicadas com uma competência que só um verdadeiro geek poderia atingir.

Marcelo Träsel | 26.12.2006, 13:48 | Comentários (2)

Uso de hormônio em frango pode ser lenda

Caí por acaso em uma comunidade do Orkut que busca esclarecer os leitores sobre o uso de hormônios para promover o crescimento acelerado das aves de corte. Parece que ela foi criada por causa de uma matéria da revista Veja sobre alimentos orgânicos, em que os hormônios foram listados como um dos problemas do frango "industrial". Os tópicos me levaram a este artigo do professor Mário Penz, da UFRGS, em que ele dá argumentos para provar o contrário.

O primeiro argumento de Penz é que os hormônios são proibidos no Brasil. Até aí, não haveria muito problema, já que o contrabando é fácil. Porém, o volume necessário seria grande demais para esconder de maneira eficiente. Segundo, a literatura científica não comprova qualquer benefício do uso de hormônios para aves de corte. Terceiro, os aviários nacionais exportam para o mundo inteiro, e qualquer denúncia sobre uso de hormônios acabaria com o mercado, ou seja, os produtores estariam pondo em risco seu negócio. Conforme Penz, os frangos crescem tão rápido por conta do aprimoramento genético.

Na própria comunidade, formada por alunos de agronomia, veterinária e zootecnia, aparecem alguns bons argumentos. Por exemplo, que um hormônio levaria mais de 42 dias para ter algum efeito significativo, mas os frangos são abatidos antes disso. Ou que os hormônios se degradam em meios ácidos como o do estômago, de modo que seria necessário aplicá-lo com injeções intramusculares. Em milhares e milhares de aves. Não parece nada factível.

Penz explica que as aves estão mais brancas por conta da alimentação, não do suposto uso de hormônios. Além disso, são abatidas jovens, então têm mais água do que gordura no corpo e isso também contribui para deixá-las mais brancas. O pesquisador diz que o valor nutricional é o mesmo na galinha caipira e no frango de aviário. Tem razão. Só faltou dizer que tudo isso deixa o frango sem sabor algum. Minha família tem uma granja onde se criam algumas galinhas soltas, comendo de tudo que podem ciscar no chão. Os ovos têm gemas quase vermelhas, enquanto a carne é um pouco mais escura. Tanto os ovos quanto a carne são muito mais saborosos. Depois de comer ovos e carne de galinha caipira, você nunca mais se contenta com as gemas anêmicas e os peitos aguados do frango industrial.

Marcelo Träsel | 24.12.2006, 13:11 | Comentários (7)

A pedidos: ceia de Natal

lombinho.jpgA meu ver, existe apenas uma regra a ser seguida para as ceias de Natal e Réveillon: preparação. A única coisa importante nessas datas é estar junto da família e dos amigos, e, creia-me, você não conseguirá fazer isso se estiver cortando cebola na cozinha. Por isso, a escolha mais óbvia são pratos que possam ser preparados com antecedência e consumidos frios, se possível. Como no Brasil faz um calor senegalesco nessa época, optar por acepipes leves também é sensato. A seguir, uma reunião de algumas receitas simples publicadas neste blog.

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Marcelo Träsel | 20.12.2006, 10:59 | Comentários (4)

Experimentando o serviço do BK de POA

Creio que é desnecessário fazer muitos comentários gastronômicos per se sobre o Burger King. É uma rede gigante de fast food, o que significa que há um teto e um piso bem-definidos para a qualidade de qualquer pedido. O que merece alguns comentários é a experiência de ir ao restaurante nesta primeira semana da primeira loja da cidade:

Leitores, algo mais sobre sua experiência no BK? Recomendações sobre as sobremesas? Reclamações relativas aos camarões grelhados na salada?

Cisco | 19.12.2006, 10:19 | Comentários (28)

Receitas típicas brasileiras

O projeto Arte da Gastronomia no Brasil tem veiculado alguns programetes nos intervalos do Fantástico, todos os domingos. É apresentado por Zezé Motta e bem feitinho. A idéia é passar por todas as capitais mostrando o preparo de pratos típicos da culinária local ou representativos dos restaurantes. O site é um lixo em termos de navegação e inexplicavelmente não oferece a possibilidade de assistir aos programas, mas ao menos é um bom repositório de receitas. Porto Alegre já foi visitada e dão a receita de um prato chamado tapichi, do qual nunca tinha ouvido falar.

Marcelo Träsel | 19.12.2006, 10:18 | Comentários (2)

Vinhos para leigos e nem tanto

guia_vinhos.jpgA editora Larousse teve a gentileza de me enviar um exemplar do seu Guia de Vinhos. Ao abrir o pacote, pensei: "Coitados, não entendo nada de vinhos. Se conseguir resenhar, vai ficar ruim." Estava enganado, o livro é perfeitamente resenhável por um ignorante no assunto. Foi escrito por Manoel Beato, sommelier do restaurante Fasano, um dos melhores do país — tanto o restaurante, quanto o sommelier. Beato escreve de forma clara e simples, evitando toda frescura que domina o mundo da enologia. Tanto que na parte de harmonização com a comida, encontra-se pastel e coxinha. Sério! A lista privilegia também os vinhos até R$ 50, porque não é destinada a uns poucos milionários. A única afetação em que o autor indulge é ter criado uma escala própria de notação, que leva sua inicial. Ela vai de 0 a 20 manoéis. O guia traz apenas os vinhos acima de 10M, ou seja, de bons a excelentes.

Como em todos os guias e enciclopédias da editora, há uma parte introdutória com os conceitos e jargão bem mastigadinhos. Fala-se um pouco sobre os diferentes tipos de vinha, as muitas formas de vinificação e como essas coisas influem no produto final. Também dá dicas de degustação fáceis de seguir e sem firulas. Beato deve mesmo entender de vinhos para ter a segurança de simplificar ao máximo a vida do leitor. Como diz na página 26: "Para o sommelier, o cliente não precisa entender de vinho. Basta Gostar." Após as preliminares, passa-se à listagem das bebidas. Dei uma olhada rápida e fiquei feliz em achar alguns vinhos de que gosto, como o Etchart Privado e alguns gaúchos. Por outro lado, um espumante excelente como o Cave Geisse ficou de fora — bem, talvez esteja abaixo de 10M e eu tenha mau gosto.

Enfim, o livro é um bom presente de Natal para homens e mulheres interessados, mesmo que levemente, no assunto. Compre por este link e doe 4% do valor a este blog. Ou veja nossas outras dicas de livros para o Natal. Ainda tem a vantagem de não precisar sair de casa.

Marcelo Träsel | 18.12.2006, 10:58 | Comentários (1)

Cerveja brasileira

Entendo muito pouco de cerveja e não deveria estar falando sobre o assunto, mas, instado por uma conversa com o Träsel, vou meter minha colher. Meu método pessoal de seleção da bebida envolve basicamente os seguintes passos:

Dê um gole. É alcoólico? Se sim, passe para a próxima etapa. -> Tem cheiro de cereais ou vegetais menos nobres decompostos? Se não, próxima etapa. -> Deixa retrogosto de cloro ou água podre? Se não, passe para a próxima etapa. -> Beba o resto.

Para o meu paladar, seguindo à risca esses preceitos, no Brasil inteiro só passam a Itaipava, Boêmia, Original e Cerpa. De todas elas a que mais gosto é a Itaipava, pois sucede que, além de passar nos testes acima, costuma ser a mais barata do grupo.

Há alguns dias estava falando com o especialista no assunto e ele disse que todo mundo de São Paulo que ele conhece fala mal da Itaipava, ao que eu respondi: Isso deve ser opinião de mulher, a maioria dos bebedores profissionais de cerveja que conheço aqui trocam quase qualquer outra pela Itaipava. Mulher não gosta porque é barata e as paulistanas têm isso de não gostarem de coisas baratas - são sinônimo, para elas, de coisa ruim. Enfim. E ele respondeu: "bingo".

Esse é o mesmo tipo de mulher que bebe Freixenet ou Prosecco feito em alambiques fétidos na Sicília e acha muito melhor que espumante brasileiro (aqueles mesmos que ganham a maioria dos concursos de degustação às escuras na França). Os importadores brasileiros são sujeitos muito sortudos, pois a combinação de um público que não faça idéia do que está bebendo e que tenha os bolsos forrados e pródigos deve ocorrer muito raramente em outras paragens.

Passei uns cinco anos tomando cervejas uruguaias quando morei na fronteira e trabalhava no Uruguai: Nenhuma das cervejas uruguaias dos anos 90 - não sei como estão hoje - tinha o gosto nítido e marcante de água de piscina que quase todas as cervejas brasileiras têm. As exceções são as que estão na lista acima.

Rico Ferrari | 15.12.2006, 12:18 | Comentários (51)

Chinelagem em São Paulo

Muito tempo atrás eu escrevi um "guia" gastronômico/cultural para o Centro Velho de Porto Alegre que, provavelmente, já não tem a menor validade. Aqui vai um guia chinelo gastronômico para a terra das gordinhas, ops, garoa.

1 - Pingüim. Lanche com generosa porção de lingüiça calabresa, ovo, alface, muito tomate e muito salame italiano. Servido no pão francês, excelente para forrar o pandulho antes de uma Itaipava. Chivito de Oro, Heitor Penteado próximo ao Metrô Vila Madalena. Cinco parangos por alma.

2 - Mega Beirute. Para duas pessoas ou para qualquer pessoa com mais de 140 kg. Diversos sabores, é, certamente, o beirute mais gostoso de São Paulo. O de champignon é especialmente TASTY. Sempre vou na loja da Doutor Arnaldo, mas há mais duas na cidade. De quinze a vinte pilas (dá para duas pessoas normais).

3 - Dogão do Black Dog. Não é barato para um dogão, mas é o masterfuckerninja dos dogões. Na Joaquim Eugênio de Lima, entre a Paulista e a Alameda Santos. De cinco a doze pilas por cabeça.

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Rico Ferrari | 14.12.2006, 1:10 | Comentários (8)

Comida japonesa explicada

O Adachi, do Quebrei o Rádio, explica de maneira simples e direta a diferença entre sushi, sashimi e quejandos. É bem mais simples do que parece. A fonte é confiável, já que o rapaz passou um tempo no japão e, ao que tudo indica, entende a linguagem.

Dica do Láudano e do Mojo.

Marcelo Träsel | 13.12.2006, 10:47

Britânicos dobram recorde de ardência de pimentas

Joy e Michael Michaud estavam procurando uma versão da pimenta dorset naga, a variedade inglesa de uma planta original de Bangladesh, com melhor sabor e forma. Acabaram criando uma bomba atômica vegetal. Ela é duas vezes mais ardida que a habañero mais forte já testada. Existe uma escala chamada Scoville, que mede ardência. O limite máximo atingido por um produto natural até hoje era de 577 mil pontos. A dorset naga atinge 923 mil pontos. Qualquer um que tente comer uma inteira vai parar no hospital. Detalhe pitoresco: em sânscrito, "naga" é demônio.

É uma sacanagem. Logo agora que tinha encontrado para vender em Porto Alegre o molho Tabasco de habañeros, inventam uma pimenta mais forte. O condimento da fábrica de temperos tradicional da Louisiana chega a meros 8 mil pontos na Scoville. Ainda assim, já traz lágrimas aos olhos. Imagine-se algo cem vezes mais forte. Quem quiser ter uma idéia, pode procurar no supermercado Nacional. Custa cerca de R$ 20, mas dura quase a vida inteira. E, como todo molho da Tabasco, é não apenas bom, como indispensável.

Dica da Sabrina Fonseca.

Marcelo Träsel | 12.12.2006, 14:09 | Comentários (12)

Como comer pelo meio ambiente

A Economist analisou os movimentos de ativismo alimentar -- fair trade, comida orgânica e comida local -- em termos de impacto ambiental e efeitos sócio-econômicos. A conclusão, mesmo que a revista seja caridosa demais para afirmá-lo de modo explícito, não poderia ser outra: quando o assunto é comida, capitalismo é bom para o meio ambiente. Por favor, depois de ler o artigo, objetem nos comentários a pontos específicos feitos pelo repórter. Gostaria especialmente de ouvir o que a platéia tem a dizer sobre os argumentos do economista Tim Harford.

[Via Marginal Revolution] [Cross-posted no Filisteu]

Cisco | 11.12.2006, 17:44 | Comentários (4)

A onda do verão

O melão cantaloupe está de chorar esse ano. Entre os vários tipos de melão do mercado, o orange era meu preferido, mas acabo de mudar de idéia.

Marcelo Träsel | 11.12.2006, 17:42 | Comentários (2)

Devassa não excita o suficiente

Nada de especial essa cerveja Devassa. Tem uns rótulos com explicações engraçadinhas de duplo sentido e mulher pelada, mas só. Provei a loira e a ruiva. A primeira é uma lager não muito superior à Serramalte. Já a segunda é uma pale ale inferior à Eisenbahn e talvez à Dado Bier Red Ale. De qualquer modo, é melhor do que tomar qualquer uma das marcas destinadas ao consumo de massa.

Marcelo Träsel | 9.12.2006, 1:46 | Comentários (14)

A salvação está em Meca

Como morador novato do Centro de Porto Alegre, admito que tenho a aprender. São muitas opções de restaurantes enfiadas em cada beco e muquifo dessa região da cidade. Esse panorama só potencializa as descobertas fantásticas de locais que parecem intocados por qualquer outra pessoa.

Minha namorada alertou-me sobre "um boteco na Riachuelo que parece vender comida árabe". Alguns dias de curiosidade se passaram até tomarmos uma atitude atrás de falafel e mais algum sortimento advindo do Oriente Médio.

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Bruno Galera | 4.12.2006, 0:01 | Comentários (5)

Quibebe

quibebe.jpgHá quase quatro anos, tive um problema de saúde sério e fiquei internado três semanas em um hospital. Como meus rins e fígado pararam de funcionar, não podia comer nada que tivesse proteínas, gorduras ou determinados sais minerais. Isso restringiu minha alimentação a dois ingredientes por ao menos uma semana inteira: chuchu e abóbora cozidos. Todo refeição vinha a bandeja coberta e eu abria ansioso para ver se haviam mudado o cardápio. Todo refeição era frustrante. A maior variação era a abóbora vir em forma de sopa.

E vejam vocês, ainda assim eu continuei amando abóbora. É um dos meus vegetais prediletos. Purê de abóbora, ou quibebe, é minha apresentação predileta do legume e portanto um dos meus pratos prediletos. Pelo nome, deve ter origem africana. Até porque existe um lugar chamado Quibebe, em Angola. Provavelmente se refere a um modo de preparo, já que pratos com outros ingredientes levam o mesmo nome, como o quibebe de banana. Abaixo, a receita da família, que tem um ingrediente especial: farinha de milho, introduzida pela minha Oma [avó] Claudete Ruschel.

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Marcelo Träsel | 1.12.2006, 11:00 | Comentários (6)