Lula foge do PT

Entre bicadas tucanas e açodamentos peemedebistas sobre a preferência do eleitorado pesquisado pelo Sensus em relação a Germano Rigotto, ficou o discreto abismo que aumenta entre Lula e o PT. Embora a Janela de Oportunidade do PSDB esteja fechando, o que deveria ser explorado por Serra, Alckmin ou até Rigotto, é o distanciamento de Lula não dos seus eleitores – mas do seu partido.

O PT não aprendeu nada da crise que ainda não acabou, mas Lula parece ter percebido que – e isso foge a piadas – depois de 45 dias abstêmio e de cara com a realidade, o presidente não consegue confiar em seus subordinados. Nos bastidores, acoberta tudo sobre sua campanha porque logo depois os detalhes estarão em algum site sendo analisados por gente tão capacitada quanto Arnaldo Jabor para decidir os rumos que o pernambucano deve tomar.

Prefiro pairar por alguns pontos da pesquisa que não foram publicados de forma direta. A pesquisa teve 2 mil entrevistados em 195 cidades de 24 estados da Nação. Na série histórica, Lula teve sua pior avaliação em novembro de 2005, com um governo "péssimo" registrado em 29%. Foi quando Germano Rigotto e os tucanos começaram a sair da moita. Era a chamada Janela de Oportunidade. Lula finalmente dava mostras de enfraquecimento por causa da crise e a oposição quis aproveitar. Não conseguiu.

Nos temas conjunturais abordados, a estrutura de algumas perguntas e suas respectivas respostas dão a dica. Em Critérios de Escolha de Voto, a ordem das perguntas é essa:

Na escolha do seu Candidato a Presidente da República nas Eleições de 2006, dos seguintes critérios qual o Sr(a) vai levar mais em conta:

1. A solução de Problemas Políticos
2. A solução de Problemas Econômicos
3. A solução de Problemas Sociais
4. A questão da Moralidade Pública

A solução dos problemas sociais – principal bandeira de Lula nas campanhas de 1989, 1994, 1998 e 2002 – deverá se repetir em 2006: ela continua como prioridade do brasileiro. Mesmo com as pesquisas feitas dois momentos bem antagônicos para Lula – julho de 2005, auge da crise do Mensalão e fevereiro de 2006, quando começa a rodar pelo país em campanha. Apesar desse alento, a pergunta que fica em último na ordem da pesquisa belisca os tornozelos de Lula nos dois momentos: "A Questão da Moralidade Pública" oscila entre 32% (julho de 2005) e 30% (fevereiro de 2006). Essa bandeira o PT despedaçou. Babau. Esqueça quem pode chegar ao segundo turno contra Lula. Isso é cortina de fumaça. O calo da eleição está aqui.

Nas duas simulações, são apresentados seis motivos para o eleitor votar (ou não) em Lula. Números de lado, veja as últimas perguntas de cada uma:

Qual é o principal motivo que levaria o Sr(a) a votar em Lula:

1. Crescimento do país / geração de empregos
2. Cuidou dos mais pobres / bons programas sociais
3. É um homem do povo
4. É sério / combate a corrupção
5. Já é conhecido / Prefere não experimentar outro Candidato
6. Porque é do PT

Qual é o principal motivo que levaria o Sr(a) a não votar em Lula:

1. A economia não vai bem / não gerou os empregos prometidos
2. Não implantou bons programas sociais
3. Afastou-se do povo
4. Não é sério / não combateu a corrupção
5. Prefere experimentar outro Candidato
6. Porque é do PT

Pode-se gerar os números que melhor convenham ao governo. Mas uma pesquisa que enfoca uma associação ao PT como algo embaraçoso para um candidato deveria ser destacada por causa disso. A carta da Moralidade Pública que os brasileros agora querem pescar o PT jogou fora no primeiro governo. Em uma pesquisa que deveria checar a saúde do presidente e seu partido, a principal questão do ano eleitoral – devidamente desprezada pelos petistas – é dissociar Lula do PT.

Por mais que soubesse dos detalhes da crise, Lula passou ao largo da barafunda com pura simpatia dos eleitores pela sua figura simbólica. E não vai ser agora que o candidato vai deixar um partido que só lhe dá dor de cabeça – lembrem-se: abstêmio – lhe dizer como proceder. E aqui está a Bola da Eleição, aquela pela qual todos devem correr atrás.

Creative Commons License