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Recepção de candidato para Lula

O presidente Luis Inácio Lula da Silva desembarcou em Porto Alegre às 22h30 de ontem, no Aeroporto Salgado Filho. Ele comparecerá à abertura da Festa da Uva, em Caxias do Sul, e depois fará discurso no congresso de Igrejas. Além da imprensa, poucas pessoas esperavam o presidente no lobby do Aeroporto Salgado Filho.

Uma delas segurava esse cartaz: Anglishcan Dutch of Canada "World Counsul for churches". Juro que não faço idéia do que isso significa. A expectativa de quem espera começa a aumentar. Mas em razão do desembarque das pessoas civis. A contagem inicial foi de 27 pessoas, quase toda de jornalistas ou assessores de imprensa. Nenhuma delas portava bandeiras vermelhas ou de ordem, quanto menos vestir a camiseta do partido. Até porque Lula sairia pela última saída do aeroporto, no último braço da pista. Entre os integrantes oficiais do grupo estavam a ex-secretária Benedita da Silva (PT), Miguel Rossetto e Dilma Rousseff.

Os deputados da banda estadual do PT chegaram cedo ao aeroporto para garantir o nome na lista da Sala de Autoridades do lugar. Faltando meia hora, apenas os deputados estaduais Dionílson Marcon e Estilac Xavier se faziam vistos. Os deputados começaram a aparecer por cerca de 22h. Não tardaria para a sala ficar tomada de chacais e seus genéricos: os jornalistas. O ex-prefeito Tarso Genro vai à imprensa para explicar que o vôo chega às 23h30. Vou perder meu ônibus. A vereadora Manuela D'Avila (PCdoB) adentra o saguão das autoridades, não sem me acossar com um: "Te cumprimentei o outro dia e tu nem respondeu". "Sou míope, baby."

Converso com dois vigilantes do Salgado Filho. O primeiro, quatro anos de casa, afirma que essa foi a menor movimentação petista desde que começou no trabalho. Ele votou em Lula. O segundo, lacônico, disse apenas que votou, "mas se arrependeu".

Um dirigente da UNE estava no local. Sozinho, não representava ameaça para o aparato policial instalado no perímetro do aeroporto. Momentos depois, o cara da UNE continuava esperando. Mais tarde, saiu da Sala das Autoridades com cara de poucos amigos (como todos da Esquerda Jovem). Depois, reaparece na sala fazendo um biriri reservado com o deputado Ronaldo Zülke e um companheiro com camiseta vermelha do Che Guevara. Ele parecia satisfeito depois disso.

Atônito, começo a vagar pelo mármore da construção. Uma senhora aparece com uma camiseta repleta de piadas internas: "Sou 100% Maria do Rosário e Luiz Fernando Schmidt". Não por acaso, um dos CCs do deputado vem me cumprimentar. Perguntou por que parei de aparecer no gabinete, mas dei uma risada característica e a conversa parou aí. Vestido com um bermudão do interior e tênis da Renner, ele não sucedeu na tentativa de entrar na Sala das Autoridades. Ele me faz crer que chegou atrasado, apenas isso. Combinamos uma carneada grotesca no interior para breve.

Começa a inesperada revoada do outrora combativo diretório estadual do PT. A aterrissagem oportuna dos deputados, estaria vinculada à reestréia na mídia – depois de culpá-la tanto –, e explica quase tudo. "Nós espertos; vocês idiotas. Agora votem". Faltou o David Stival. Daqui a pouco vão descobrir o que faziam dentro da sede. O candidato ao governo estadual Olívio Dutra aparece como tal e sai pelo lobby distribuindo beijinhos e apertos de mão.

Nada disso explica o índice nulo de militantes na recepção ao seu líder máximo. A militância petista em casa, acabrunhada. Todos os taxistas estavam sem clientes há horas. Sobrava lugar no T-5. Enquanto isso, vários carros de dirigentes petistas estacionavam em vaga dupla. Eles podem. Ao final, pergunto a uma senhora se posso coletar algumas informações sobre o que ela pensava daquilo tudo, idade-nome-trabalho. Aquelas coisas. Ela responde em um português claro:

"Eu não voto. Sou uruguiaia".

Por Rodrigo Alvares em 17.02.06 às 10:04 - comentários (3)
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