Com que cara eu vou?

Dá pra escutar a pré-candidatura de Germano Rigotto à presidência se esfarelar até o Piauí. Desde o jogo de cena de Anthony Garotinho até a espera da convenção nacional do PMDB em junho, toda a prosopopéia pampeana vai desembocar na eleição ao Piratini. O que Rigotto dirá aos eleitores é que vai ser complicado.

Enquanto a militância peemedebista mostra cansaço, o desengajamento que passa até por dentro do núcleo de marketing da campanha do gaúcho deixa à mostra a intenção nacional do partido. Desesperados com a manutenção da Lei de Verticalização, começam a apontar boicotes de todo o lado quando, na verdade, tudo não passa de um ciclo ao qual todos no PMDB estão acostumados: arranjar uma boquinha em qualquer cargo público. É mais previsível que assistir ao Discovery Channel.

Todo o enredo está pronto. Por ora presidente do STF, Nelson Jobim declara que a verticalização será decidida no dia 25 de março. Por coincidência, uma semana depois da prévia peemedebista que anunciará Rigotto como pré-candidato. Como bom gaúcho, o governador licenciado acredita no poder de seu umbigo e sai por aí dizendo que vai voar nas pesquisas assim que for efetuado como candidato. Para a sorte de todos, o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. É típico de todas as eleições: o PMDB se cacifa como grande partido quando na verdade não passa de um clubinho. Revisando, não tem nem como culpar os caciques do partido por esse comportamento.

O inchaço do PMDB como partido com mais prefeituras no Brasil vem das eleições de 1986. Hoje em dia é muderno xingar petistas pelo aparelhamento do Estado e tal. O PMDB é o futuro do PT. Vinte anos atrás, montaram essa estrutura de apadrinhamento que deixa o partido engessado e fisiológico. Terminar com isso é difícil quando se quer, imagine então com a inércia de chefinhos regionais como José Sarney – que por sinal é o maior responsável por essa estrutura. O partido varreu o país em 1986 na esteira do então sucedido Plano Cruzado e com a distribuição de sinal público de rádio e TV para as retransmissoras pertencentes a políticos que atrasam o Brasil há décadas.

Germano Rigotto bailou. Deveria conhecer bem o partido no qual é filiado. Agora aparece como um paladino para salvar a honra do PMDB. Bailou. E se pensa que as pessoas não notam isso, está errado. Se esperar até junho pelo pé na bunda que vai tomar na convenção nacional, será curioso ver com que cara vai aparecer como candidato à reeleição no meio de uma campanha eleitoral que deverá apresentar Olívio Dutra (PT/RS) como líder das pesquisas e dono de um governo superior ao de Rigotto na maioria dos quesitos. Como o PMDB gaúcho se comportará até lá chega a ser fácil de prever.

O governo estadual estará em frangalhos com as saídas de secretários, a ausência do governador etc. Para ilustrar o quadro futuro, o atual governador e pré-candidato do PMDB do governo gaúcho, Antônio Hohlfeldt, declarou que a greve do Cpers só será resolvida depois do dia 20 de março – um dia depois das prévias, data prevista para Rigotto retomar ao Piratini e resolver esse que é um dos problemas estruturais de seu governo.

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