Anticandidatura é o caminho

Com as opções à disposição, vale retomar o assunto da pertinência das eleições em um país como o Brasil. Se é para protestar, não adianta voto válido ou nulo. O lançamento de uma anticandidatura seria muito mais produtiva para a manutenção de uma discussão permanente (ou ao menos até outubro) acerca do valor que cada pessoa deve dar para seu voto. O voto nulo joga o problema de volta para quem não quer resolver o problema – a vulgarização do ato menos de 30 anos depois da volta da Democracia no Brasil também escancara outros pontos. Um país que fica acabrunhado quando descobre que o Enéas não concorrerá à presidência está no caminho certo. É o anticandidato perfeito. Em todas as eleições levantou a discussão do "voto de protesto" e chegou a ter o dobro de votos recebidos por Leonel Brizola nas presidenciais de 1994.

Em sua anticampanha pela presidência em 1974 – época do Tarzan (Arena), Jane (MDB) e a Chita (Brasileiro) –, Ulysses Gumarães cantou a pedra mencionada pelo Walter uns meses atrás: "O Poder Moderador pode chamar a quem quiser para organizar ministérios; esta pessoa faz a eleição, porque há de fazê-la; esta eleição faz a maioria. Eis aí está o sistema representativo do nosso país".

Em 1968, o jornalista Hunter Thompson propôs a criação de um anticandidato que concorresse contra Richard Nixon em face da pálida corrida do democrata Howard Humphrey e do bipartidarismo norte-americano. Thompson queria que alguma coisa estimulasse a discussão sobre o sistema político – que fosse pelo menos sobre o conceito de uma anticandidatura dos Estados Unidos – que durasse anos até se tornar concreta. O plano avançado a longo prazo seria a eleição de 1972. Mas tanto lá quanto aqui, esse tipo de idéia não viceja em lugar algum até hoje.

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